Calendário Econômico: China em foco com balanços e inflação no Brasil e nos EUA
Por Mahmoud Issa e Pesha Magid
KHAN YOUNIS, Faixa de Gaza (Reuters) - Shadi Abu Sido disse que seu mundo se despedaçou na detenção israelense quando os guardas lhe disseram que sua esposa e dois filhos haviam sido mortos na guerra de Gaza.
"Fiquei histérico", contou o fotógrafo palestino de Gaza.
Foi só quando foi libertado na segunda-feira, como parte do acordo de cessar-fogo mediado pelos EUA entre o Hamas e Israel, que interrompeu dois anos de guerra, que ele descobriu que seus entes queridos estavam vivos.
Sua esposa, Hanaa Bahlul, correu pelo corredor da casa de sua família em Khan Younis e pulou em seus braços. Ele a girou no ar enquanto se agarravam um ao outro. Abu Sido beijou as bochechas de seus filhos repetidas vezes, murmurando "meu amor" enquanto segurava a filha e o filho que ele achava que nunca mais veria.
"Ouvi a voz dela, ouvi a voz dos meus filhos, fiquei surpreso, não dá para explicar, eles estavam vivos. Eu vi minha esposa e meus filhos vivos. Imagine em meio à morte - vida", disse ele.
Abu Sido, um fotojornalista, contou que foi detido no hospital Shifa, no norte da Faixa de Gaza, em 18 de março de 2024.
Ele estava entre os 1.700 palestinos detidos pelas forças israelenses durante a devastadora guerra em Gaza e libertados na segunda-feira, juntamente com 250 prisioneiros condenados ou suspeitos de envolvimento em ataques mortais, em troca de 20 reféns israelenses mantidos pelo Hamas desde seu ataque transfronteiriço em outubro de 2023.
Bahlul disse que um advogado do Addameer, um grupo palestino de direitos humanos, havia lhe dito que Abu Sido estava sendo mantido sob a Lei de Combatentes Ilegais de Israel -- uma forma de detenção administrativa.
Omer Shatz, especialista em direito internacional israelense da Universidade Sciences Po, em Paris, afirmou que a lei permite que Israel limite o acesso a advogados, encarcere pessoas sem acusação ou julgamento e detenha arbitrariamente muitos palestinos em Gaza.
De acordo com o Addameer, 2.673 habitantes de Gaza estão atualmente detidos sob essa lei.
As Forças Armadas israelenses disseram em uma nota enviada à Reuters que sua política de detenção estava "em total alinhamento com a lei israelense e as Convenções de Genebra" sobre padrões legais para tratamento humanitário em tempos de guerra.
O Ministério da Justiça de Israel não respondeu aos pedidos de comentário da Reuters.
Em março de 2024, os militares israelenses disseram que invadiram o hospital Shifa, acusando o Hamas de operar nas instalações. O Hamas negou as alegações israelenses de que tinha postos de comando sob o Shifa e outros hospitais de Gaza. A Reuters não conseguiu verificar de forma independente as afirmações de nenhum dos lados.
TRATAMENTO NA PRISÃO
Abu Sido disse que foi severamente espancado, algemado, vendado e forçado a se ajoelhar por longos períodos enquanto estava detido. Seus pulsos pareciam estar machucados durante o encontro com a Reuters, o que ele afirmou ter sido causado pelas algemas. A Reuters não pôde verificar de forma independente os detalhes de seu relato.
Ele foi inicialmente mantido no campo de detenção militar de Sde Teiman, em Israel, depois transferido para o campo militar de Ofer -- que fica na Cisjordânia ocupada por Israel -- e mais tarde para a prisão de Ketziot, em Israel, de acordo com sua esposa.
Bahlul disse que Abu Sido foi preso apenas por ser "um jornalista de uma instituição palestina".
Um porta-voz do Serviço Prisional Israelense disse que todos os presos foram mantidos de acordo com os procedimentos legais e que seus direitos foram respeitados.
"Não temos conhecimento das alegações descritas e, até onde sabemos, nenhum incidente desse tipo ocorreu sob a responsabilidade do serviço", declarou o porta-voz.
(Reportagem adicional de Maayan Lubell em Jerusalém)