Por Joseph Nasr e Andreas Rinke
BERLIM (Reuters) - Os esforços para a composição de uma coalizão de governo tripartite na Alemanha fracassaram, disse a chanceler Angela Merkel nesta segunda-feira, o que mergulhou o país em sua pior crise política em décadas, fez surgir a possibilidade de novas eleições e lançou dúvidas sobre o futuro da líder alemã.
O pró-empresariado Partido Democratas Livres (FDP, na sigla local) se retirou das conversas depois de mais de quatro semanas de negociações infrutíferas com o bloco conservador de Merkel e os ambientalistas dos Verdes, dizendo não haver um meio termo suficiente.
Como a liderança alemã é vista como crucial para a União Europeia lidar com uma reforma na governança e a saída futura do Reino Unido, o anúncio da saída, feito pelo líder do FDP, Christian Lindner, assustou os investidores e derrubou o euro.
Aparentando cansaço, Merkel disse que continuará como chanceler interina e consultará o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, para saber como seguir adiante. Um acordo chegou a estar ao alcance, afirmou.
Como o partido social-democrata (SPD) insistiu nesta segunda-feira em sua promessa de não voltar à "grande coalizão" de centro-direita e centro-esquerda de Merkel depois das perdas sofridas em uma eleição de setembro, novas eleições parecem ser a opção mais provável.
"É um dia de reflexão profunda sobre como ir adiante na Alemanha", disse Merkel aos repórteres. "Como chanceler, farei tudo para que este país seja bem administrado nas semanas difíceis que virão."
O fiasco nas conversas para a formação de uma coalizão é inédito na história alemã do pós-guerra, e foi comparado pela revista Der Spiegel à eleição chocante do presidente norte-americano, Donald Trump, e ao referendo britânico de desfiliação da UE – momentos nos quais países descartam reputações de estabilidade construídas ao longo de décadas.
O fracasso surpreendeu, já que as principais desavenças – a imigração e a política de combate à mudança climática – não eram vistas como bandeiras do FDP.