Por Arthur Connan e Ingrid Melander
PARIS (Reuters) - O escândalo envolvendo o produtor de cinema Harvey Weinstein está forçando uma nova análise de atitudes em relação a assédio sexual na França, um país que aprecia sua autoimagem como terra da sedução e romance, disse a ministra encarregada de reprimir a violência contra as mulheres.
Weinstein foi acusado por diversas mulheres de assédios e abusos sexuais em incidentes datados desde a década de 1980, incluindo três mulheres que dizem ter sido estupradas. O produtor nega ter feito sexo não consensual com qualquer uma delas.
Mais de 300 mil registros de assédios ou abusos sexuais foram publicados no Twitter sob a hashtag em francês #balancetonporc, ou #squealonyourpig, em inglês, na semana passada, embora conservadores dizem que a nova tendência representa um ataque ao estilo de vida francês em nome do puritanismo ao estilo norte-americano.
“Nós realmente estamos em um ponto de mudança, com o caso Weinstein como um gatilho”, disse a ministra da Igualdade de Gêneros, Marlene Schiappa, em entrevista à Reuters nesta sexta-feira.
A França tem frequentemente discutido assédios sexuais durante a última década após escândalos envolvendo políticos franceses.
Seis anos atrás, um escândalo sexual forçou o ex-ministro das Finanças francês Dominique Strauss-Kahn a renunciar como chefe do Fundo Monetário Internacional, gerando uma rodada de exames de consciência na França sobre abusos sexuais que não são declarados ou passam despercebidos nos mais altos escalões de poder.
Um deputado do partido Em Marcha!, do presidente Emmanuel Macron, Christophe Arend, foi acusado por sua ex-assistente e gerente de campanha de assédio sexual, relatou a Franceinfo nesta sexta-feira.
O partido informou em comunicado que Arend é beneficiado por uma presunção de inocência até que se prove o contrário e que ele havia preenchido uma queixa de “denúncia caluniosa” contra a acusadora.
“Qualquer forma de violência e assédio é intolerável. Cabe à Justiça e somente a ela iluminar a questão”, informou o partido.
A ministra da Igualdade de Gêneros disse que o escândalo Weinstein pode ter um impacto mais duradouro na França porque fez com que mulheres de todos as classes sociais denunciassem abusos e assédios em trabalhos e espaços públicos, não somente nos corredores do poder.
“Quando é sobre políticos, a maioria das pessoas só critica os políticos, em vez de ver como uma questão mais ampla”, disse Schiappa, blogueira de 34 anos que se tornou ministra no novo governo do presidente Emmanuel Macron.
“Mas quando isto tem a ver com o cinema, isto tem um impacto maior, porque as pessoas se identificam com atores e atrizes”, acrescentou, descrevendo a onda de testemunhos nas redes sociais como uma “liberação”.