Por Sonia Elks
LONDRES (Thomson Reuters Foundation) - Crianças de até cinco anos de idade estão sendo traficadas ou forçadas a trabalhar para empresas que fornecem materiais para algumas das maiores marcas do mundo, que adotam uma "ignorância proposital" do problema, disse a diretora de um novo filme.
"Invisible hands" mostra crianças vítimas da escravidão moderna trabalhando em plantações de cacau em Gana, fábricas de acessórios na Índia e fazendas de cultivo de tabaco nos Estados Unidos.
"Elas não estão nem um pouco escondidas", disse Shraysi Tandon à Thomson Reuters Foundation por telefone antes da estreia do filme em Nova York, nesta sexta-feira.
Ela disse que grandes empresas estão mostrando uma "ignorância proposital" em relação ao trabalho infantil em suas cadeias de fornecimento porque consideram muito caro e complicado lidar com o problema.
Mais de 150 milhões de crianças trabalhavam em todo o mundo em 2017, segundo um relatório da Organização Internacional do Trabalho, e a Organização das Nações Unidas (ONU) disse que desastres climáticos e conflitos condenaram milhões delas ao trabalho infantil.
Shraysi disse que a média de idade das crianças com as quais conversou durante a filmagem era de 12 anos, mas que a mais jovem era uma menina de quatro ou cinco anos trabalhando em uma fazenda de cultivo de tabaco na Indonésia.
"Ela estava amarrando as folhas de tabaco a uma vara, e ela era tão pequena que só erguer uma ou duas folhas de tabaco já era difícil para ela", contou.
O efeito do trabalho infantil muitas vezes dura toda a vida, disse, já que as crianças são expostas a produtos químicos perigosos e maquinário pesado, e a falta de estudo também limita suas possibilidades de trabalho.
"Elas são extremamente vulneráveis e suscetíveis a todas as formas de exploração".
Em muitos casos, as crianças são expostas a condições piores do que os adultos, disse, porque providenciar equipamentos de segurança de seu tamanho equivaleria a um reconhecimento tácito de sua existência entre a mão de obra.
Algumas crianças também são traficadas, e muitas sofrem abusos sexuais dos adultos que as controlam.
"Se as crianças fazem um bom trabalho são agredidas sexualmente, e essa é sua 'recompensa', e se fizerem besteiras também são espancas, punidas e agredidas sexualmente", disse.
Enquanto isso, grandes marcas não estão fazendo esforços suficientes para eliminar o trabalho infantil e o tráfico de pessoas de suas, muitas vezes complexas, cadeias de fornecimento, porque vêem as medidas como muito difíceis ou onerosas, disse Shraysi.
"Elas estão competindo no mercado global, e se você quer manter os custos baixos e os lucros altos você tende a ignorar essas coisas".
A diretora pediu que empresas mapeiem e inspecionem seus fornecedores e que consumidores pesquisem se trabalho infantil pode ter sido usado para fabricar os produtos que compram para exigir mudanças.
"As empresas agem quando sua marca ou reputação está sendo ameaçada".