Por Corina Pons e Mayela Armas
CARACAS (Reuters) - Aliados de Nicolás Maduro e Juan Guaidó, líderes do partido no poder e oposição na Venezuela, iniciaram conversas exploratórias preocupadas com o impacto que o coronavírus pode causar no país, disseram fontes de ambos os lados.
As negociações acontecem no momento em que Maduro e Guaidó tentam se convencer de que a pandemia contribuirá para a derrota de seu oponente na nação atolada numa crise humanitária, acrescentaram as fontes, sob condição de anonimato.
Os contatos, que ocorreram entre alguns membros do grupo mais próximo de Maduro e os principais atores dos principais partidos políticos da oposição, surgem da preocupação dos partidos à medida que os contágios crescem e a escassez de combustível e a hiperinflação no país pioram.
As negociações exploratórias, que não têm uma agenda clara, mostram que os aliados de Maduro e Guaidó não estão convencidos de que podem vencer o outro em meio à pandemia, ao colapso dos preços do petróleo e às sanções dos EUA.
"Existem dois extremos. Maduro e aqueles que acreditam que com o vírus acabará com a liderança de Guaidó e aqueles que do outro lado esperam que essa crise derrube Maduro", disse um deputado da oposição a favor das negociações. "Acho que temos que encontrar soluções", disse ele.
A Reuters não conseguiu determinar quando as negociações começaram, onde ou como elas estão ocorrendo e como Maduro e Guaidó as veem. Sete fontes da oposição e do partido no poder confirmaram as abordagens.
As negociações acontecem enquanto os Estados Unidos aumentam a pressão acusando Maduro de ser o chefe de um cartel de drogas e anunciando publicamente que estão dispostos a diminuir as sanções se um governo de transição na Venezuela tomar forma.
"Não há negociação, há reaproximações ... Existem fatores-chave dentro do partido no poder que querem negociar para se salvar", disse um deputado da oposição que conhece os contatos.
Uma fonte do oficialismo admitiu a comunicação. "Há propostas de todos os níveis" entre funcionários do governo e membros dos quatro principais partidos políticos, disse ele.
Guaidó, chefe do Parlamento que assumiu a presidência interina do país, ignorando a reeleição de Maduro com o apoio de dezenas de países e o governo Trump, se ofereceu para criar um governo de emergência, sem ele e sem Maduro. Dezenas de países apóiam a idéia.
Governo e oposição estavam numa mesa de diálogo no ano passado, sob mediação norueguesa, que propôs um conselho de transição, mas as negociações foram suspensas pela retirada dos delegados de Maduro, irritada após uma mudança nos EUA.
Maduro garante que seu governo conseguiu achatar a curva de contágio com apoio de insumos da China, enquanto Guaidó o acusa de usar a pandemia para justificar uma crise humanitária que leva anos e diz que sua saída da presidência é urgente.
A Venezuela foi um dos últimos países da América Latina a registrar o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus e, de acordo com as Nações Unidas, é um dos países mais vulneráveis devido à falta de sabão e água nos hospitais e ao empobrecimento da população. O número de infectados chega a 285.
O Ministério da Informação do governo venezuelano e a equipe de Guaidó não responderam imediatamente a pedidos de comentários.
Guaidó, que controla as contas venezuelanas no exterior, procura entregar 20 milhões de dólares à Organização Pan-Americana da Saúde para transporte de suprimentos ao país, mas, segundo três fontes, o governo Maduro bloqueia a operação com as Nações Unidas, que reconhece seu mandato.