Por Orhan Coskun e Nick Tattersall
ANCARA (Reuters) - Ao estilo de um estadista, o apelo do presidente turco, Tayyip Erdogan, para que os partidos rivais do país deixem seus egos de lado e formem um novo governo pode ser um sinal de que o aguerrido líder virou uma nova página, mas mesmo os que são próximos a ele se perguntam quanto tempo isso irá durar.
Erdogan, um estrategista brilhante que construiu sua carreira política no papel de azarão, está emparedado desde que seu Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), perdeu sua maioria parlamentar no domingo, o que frustrou sua ambição de acumular maiores poderes no cargo.
Autoridades de alto escalão do AKP, começando pelo primeiro-ministro, Ahmet Davutoglu, têm insistido que o partido irá esgotar todos os esforços para encontrar um parceiro de coalizão pequeno antes de cogitar uma nova votação. Mas, nos bastidores, muitos veem uma eleição antecipada como a melhor chance de Erdogan ver a legenda que fundou recuperar a maioria.
"Erdogan está enviando mensagens sutis agora, e vai continuar assim por mais um tempo, mas veremos se ele continua", disse à Reuters um dirigente veterano do AKP envolvido com a estratégia partidária, pedindo para não ser identificado depois que Davutoglu exortou autoridades da legenda a não debaterem opções para a coalizão com a mídia.
"Erdogan quer que as pessoas vejam que a opção de uma coalizão não irá funcionar... os esforços para formar um governo estável realmente serão feitos, mas não acho que darão resultado. Acredito que uma eleição antecipada está no topo da lista de possibilidades no momento", acrescentou.
Muitos na Turquia, que é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), ainda têm lembranças vívidas das coalizões fragmentárias e oscilantes e dos conflitos de personalidades dos anos 1990. Programas internacionais de apoio financeiro fracassaram, a economia degringolou em uma crise e a influência do Exército se fez sentir com frequência.
Os mercados financeiros encontraram consolo nos comentários conciliadores de Erdogan, mais conhecido por sua retórica explosiva, segundo os quais todos os partidos deveriam trabalhar rapidamente para compor um novo governo e os egos precisam ser postos de lado. Este alívio, porém, teve vida curta.
(Reportagem adicional de Ercan Gurses, Tulay Karadeniz e Ece Toksabay)