Por Julie Steenhuysen
CHICAGO (Reuters) - Um estudo de caso sobre um bebê nascido morto, cuja mãe brasileira estava infectada com o Zika, levanta a suspeita de que o vírus possa ser capaz de causar mais danos ao tecido fetal do que antes pensado, disseram pesquisadores nesta quinta-feira.
O estudo mostrou que o cérebro do bebê não estava presente, uma condição conhecida como hidranencefalia. Em vez de tecido, as cavidades cerebrais tinham fluido. O bebê também apresentava acúmulos anormais de fluido em outras partes do corpo.
O caso, publicado no periódico PLOS Neglected Tropical Diseases, é o primeiro a associar o Zika com danos em tecidos fetais fora do sistema nervoso central.
Até agora, os problemas em bebês relacionados com a rápida expansão do Zika estão quase todos restritos ao Brasil e ligados à microcefalia, uma má-formação cerebral.
O Brasil confirmou mais de 580 casos de microcefalia e está investigando mais de 4.100 casos suspeitos.
Embora não esteja provado que o Zika cause a microcefalia, cientistas dizem que aumentam as evidências nesse sentido. Em 1° de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o Zika uma emergência de saúde global. A OMS estima que o Zika poderia afetar até 4 milhões de pessoas nas Américas e se espalhar por partes da África e Ásia.
O novo estudo foi liderado por Albert Ko, especialista em doenças tropicais da Universidade de Yale, e Antônio Raimundo de Almeida, do Hospital Geral Roberto Santos, em Salvador.
Ko afirmou que é difícil generalizar as conclusões da pesquisa porque era apenas um caso, mas elas são incomuns. Além da microcefalia, ele notou que o feto não tinha tecido cerebral. “Era apenas fluido.”
Também havia fluido nos pulmões, abdômen e outros tecidos. O feto também tinha antrogripose, uma condição pela qual as juntas não se mexem normalmente.
Ko tem trabalhado com colegas brasileiros para entender o surto de Zika desde 2015. Ele declarou que o caso pesquisado indica que o vírus pode estar associado com a morte de fetos.
"Nós não podemos provar que há uma associação causal, mas levanta preocupações”, afirmou.
(Reportagem de Julie Steenhuysen)