Por Lisa Barrington e Stephanie Nebehay
BEIRUTE/GENEBRA (Reuters) - Moradores de uma cidade sitiada na Síria contaram a investigadores da Organização das Nações Unidas (ONU) como os mais fracos entre eles, privados de comida e remédios, em uma violação das leis internacionais, estão sendo atingidos pela fome e a morte, disse à Reuters nesta terça-feira o principal investigador das Nações Unidas para crimes de guerra.
Na segunda-feira, um comboio com ajuda levou o primeiro carregamento de comida e medicamentos em três meses para a cidade de Madaya, no oeste sírio, onde 40 mil pessoas estão cercadas pelas forças do governo.
Outro funcionário das Nações Unidas que supervisionou a entrega da ajuda humanitária descreveu, nesta terça-feira, que viu moradores desnutridos, particularmente crianças, alguns dos quais eram pouco mais do que esqueletos praticamente imóveis.
A comissão de inquérito da ONU, que está documentando crimes de guerra na Síria, tem estado em contato direto com moradores de Madaya, disse o presidente da comissão, Paulo Pinheiro, em e-mail respondendo a perguntas da Reuters.
"Eles deram informações detalhadas sobre falta de comida, água, médicos qualificados e remédios. Isso tem levado à desnutrição aguda e a mortes nos grupos mais vulneráveis da cidade", afirmou Paulo Pinheiro em e-mail enviado do Brasil, seu país natal.
A investigação da ONU, composta por peritos independentes, há muito denuncia o uso da fome por ambos os lados do conflito sírio como uma arma de guerra, e tem uma lista confidencial de suspeitos de crimes de guerra e unidades de todos os lados, que é mantida em um cofre da ONU em Genebra.
"Táticas de cerco, pela sua natureza, têm como alvo a população civil, submetendo-a à fome, negação de serviços essenciais básicos e medicamentos", disse Pinheiro na terça-feira.
"Tais métodos de guerra são proibidos sob a lei humanitária internacional e violam as obrigações fundamentais de direitos humanos no que diz respeito ao direito à alimentação adequada, à saúde e ao direito à vida, para não mencionar o especial dever de cuidar do bem-estar das crianças."
O coordenador humanitário da ONU residente na Síria, Yacoub Ela Hillo, relatou cenas de partir o coração sobre quando o comboio de ajuda chegou a Madaya na segunda-feira.
"Nós vimos pessoas que estão claramente desnutridas, especialmente as crianças, vimos pessoas que estão extremamente magras, esqueletos, que agora estão mal se movendo", disse ele a repórteres em Nova Iorque por telefone de Damasco, acrescentando que todos os lados na guerra civil estão usando o cerco como uma tática de guerra.
"Vimos pessoas desesperadas, com frio, pessoas com raiva, que praticamente perderam a esperança de que o mundo está preocupado com a situação", disse ele. "Muitos mais vão morrer se o mundo não agir mais rápido."
A Organização Mundial de Saúde disse que pediu ao governo sírio autorização para enviar clínicas móveis e equipes médicas para Madaya para avaliar a extensão da desnutrição e remover os piores casos.
((Tradução Redação Rio de Janeiro; +55 21 2223-7148))REUTERS MPP RBS