Por Tom Miles
GENEBRA, Suíça (Reuters) - Investigadores de crimes de guerra da Organização das Nações Unidas (ONU) planejam publicar os nomes dos suspeitos envolvidos com a guerra civil de quatro anos na Síria e levá-los a julgamento, numa mudança radical de estratégia anunciada nesta sexta-feira.
Fontes diplomáticas disseram que uma Comissão de Inquérito independente, liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, pode publicar alguns das centenas de nomes presentes em listas secretas de suspeitos em 17 de março, no Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Pinheiro, ao falar a repórteres após ter se reportado informalmente ao Conselho de Segurança da ONU, evitou revelar mais sobre o assunto, dizendo que a divulgação dos nomes precisaria "ser de alguma utilidade" e ter algum "prosseguimento".
"Vocês precisam compreender que temos que manter o suspense", disse ele.
Os investigadores já produziram quatro listas, incluindo nomes de comandantes militares e de segurança, diretores de prisões e comandantes de grupos armados não estatais, como os autoproclamados "emires" de grupos radicais, afirmaram os investigadores, que agora concluíram uma quinta lista.
"Não publicar os nomes a essa altura da investigação seria reforçar a impunidade que a Comissão recebeu um mandato para combater", disseram eles num relatório ao Conselho de Direitos Humanos.
O relatório, o mais recente numa série de documentos sobre abusos de direitos humanos tais como tortura, crimes sexuais, assassinatos e uso de crianças soldados, disse que a comunidade internacional falhou no seu dever de proteger os cidadãos sírios.
O conflito já matou mais de 200 mil pessoas e forçou outras 10 milhões a deixar suas casas, provocando uma crise humanitária na região que não demonstra nenhum sinal de resolução.
Mesmo sem nomear aliados do presidente sírio, Bashar al-Assad, como Rússia e Irã, nem países que apoiam grupos armados rebeldes tais como Estados Unidos, Catar e Arábia Saudita, os investigadores deixaram claro que culpam tais países pela continuação do derramamento de sangue.
"O consistente suporte fornecido ao governo por seus apoiadores internacionais, em termos de equipamento militar, aconselhamento e treinamento, encorajou o país a persistir em sua abordagem militar e de segurança baseada no uso excessivo da força", disse o relatório.
Enquanto isso, o apoio a grupos armados de oposição foi classificado como restrito demais para que possam desafiar seriamente as forças de governo, ao mesmo tempo em que fortaleceu os braços radicais, acrescentou o relatório.
"O apoio dado aos chamados 'moderados' tem em última instância consolidado a dominância de grupos extremistas tais como Isis e Jabhat al-Nusra, que conseguiram sobrepujar as posições de moderados e ganhar a lealdade entre seus regimentos."
O Estado Islâmico também é conhecido pela sigla Isis.
A investigação pediu repetidamente para que o caso da Síria seja encaminhado ao Tribunal Criminal Internacional, mas com tal via bloqueada por alguns membros com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, os investigadores afirmaram que a formação de um tribunal especial deve ser urgentemente levada em consideração.
(Reportagem adicional de Michelle Nichols) 2015-02-20T202438Z_1006940001_LYNXMPEB1J0T7_RTROPTP_1_MUNDO-SIRIA-RELATORIO-CRIMES.JPG