Por Sara Rossi e James Mackenzie
MILÃO (Reuters) - A Itália deu início à Expo Milão nesta sexta-feira dividida entre as esperanças de que a vitrine global de alimentos, tecnologia e cultura afaste o clima de desânimo no país e os temores de que seja eclipsada por escândalos, atrasos e protestos.
O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, conta com a atração para reforçar os frágeis sinais de recuperação econômica depois de anos de estagnação e recessão.
"Hoje é como se a Itália estivesse abraçando o mundo", disse durante a pomposa cerimônia de abertura, que contou com o sobrevoo de caças soltando fumaça nas cores da bandeira nacional. "Todos vocês, especialistas que insistiam em dizer ‘jamais vamos conseguir', eis a sua resposta", afirmou. "Gosto de pensar que o amanhã começa hoje".
Com 10 milhões de ingressos já vendidos, as autoridades esperam a visita de 20 milhões de pessoas, metade delas visitantes estrangeiros atraídos a Milão, e torcem para que as receitas ultrapassem os 10 bilhões de euros.
Mas o evento, cujo tema é a produção de alimentos sustentáveis, já enfrentou uma investigação de corrupção que levou à prisão de várias autoridades de alto escalão, gastos maiores do que o previsto e atrasos na construção, o que fez com que grande parte das instalações não ficasse pronta para o dia da abertura. Os temores com a segurança também arrefeceram os ânimos.
A feira, que se segue à Expo de 2010 em Xangai, também mobilizou uma variedade difusa de manifestantes com bandeiras que vão da anti-globalização e do ativismo ambientalista a defensores dos estudantes e críticos das medidas de austeridade, que veem a feira como um símbolo de desperdício e corrupção.
O papa Francisco, cujo discurso foi transmitido na abertura, referiu-se à ironia de um mega espetáculo global dependente de patrocínios privados e dedicado ao desenvolvimento sustentável e à alimentação dos pobres.
"De certa maneira, a própria Expo é parte deste paradoxo de abundância, obedece a cultura do desperdício e não contribui com um modelo de desenvolvimento igualitário e sustentável", declarou.
Enquanto milhares de manifestantes marchavam pelo centro de Milão atrás de um cartaz com os dizeres "Nada de Expo, Comam os Ricos", o policiamento ostensivo refletiu o temor das autoridades de que pequenos grupos radicais pudessem causar violência.
A Expo 2015 terá mostradores de tecnologia interativa com o tema "Alimentando o Planeta", com pavilhões de 54 países apresentando exposições educativas e suas cozinhas locais.
Eventos culturais, arquitetura futurista, um "supermercado do futuro" e dezenas de restaurantes preenchem o espaço – que, como notaram seus críticos, exigiu a pavimentação de mais de um milhão de metros quadrados de terras agricultáveis nos arredores de Milão.
No total, mais de 140 nações participam da feira. A China, uma presença crescente na Itália em função de uma série de aquisições de grande porte, está especialmente bem representada.
(Reportagem adicional de Danilo Masoni)