Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai anunciar na segunda-feira, durante a reunião dos 100 dias governo, a volta formal do Brasil à União das Nações Sul-americanas (Unasul), com a realização de uma cúpula de mandatários da região em Brasília, possivelmente no final de maio, disseram à Reuters fontes que acompanham o tema.
A retomada da Unasul é uma das propostas de campanha de Lula, que sempre defendeu a aliança política dos países da região. O bloco, criado em 2004 como Comunidade Sul-Americana de Nações e transformada em Unasul em 2008, foi abandonada pelo Brasil formalmente em 2019, por decreto, durante o governo de Jair Bolsonaro, que o considerava um clube de países de esquerda.
Sem ter passado a decisão pelo Congresso, como seria regular - a adesão foi aprovada pelos parlamentares em 2011 - a volta do Brasil ao bloco, internamente, é simples, apenas com a anulação do decreto de Bolsonaro.
Vários países da região, em sua maioria à época nas mãos de presidentes de direita, também deixaram o bloco - Argentina, Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai. O então presidente do Chile, Sebástian Piñera, tentou organizar a região em outro bloco, o Prosul, que excluía a Venezuela, mas a iniciativa não teve sucesso.
De acordo com as fontes ouvidas pela Reuters, o Brasil vai iniciar os passos burocráticos para voltar formalmente à organização e está em contato com os demais países para que também retornem.
O encontro em Brasília ainda não tem uma data fechada e nem convites foram emitidos ainda aos 12 países, mas consultas estão sendo feitas para um encontro em Brasília no final de maio, depois que Lula voltar do Japão, onde participa entre 19 e 21 do encontro do G7.
A cúpula vem sendo chamada de encontro de chefes de Estado, e não propriamente de Unasul, porque provavelmente nem todos os países terão completado ainda os trâmites de retorno ao bloco na data. No entanto, a intenção é justamente discutir os objetivos e o formato da nova Unasul, daqui para frente.
O bloco chegou a ter uma sede física construída em Quito - hoje desativada - e uma estrutura que incluía uma escola sul-americana de defesa, um centro de estudos estratégicos e um instituto na área de saúde. O bloco baseava sua cooperação principalmente nas áreas de saúde e infraestrutura, mas agora o presidente brasileiro pretende incluir ações contra as mudanças climáticas no centro das ações da Unasul.
O último secretário-geral da Unasul foi o ex-presidente da Colômbia, Ernesto Samper, que deixou o posto em janeiro de 2017. Veementemente contrário ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Samper se tornou persona non grata em Brasília já durante o governo de Michel Temer, o que ajudou a esvaziar o bloco.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)