Por Tova Cohen e Steven Scheer
TEL-AVIV (Reuters) - Uma vitória da oposição de centro-esquerda na eleição de terça-feira em Israel pode ser uma mudança bem-vinda pelo setor corporativo e empresarial em geral, ansioso pelos "dividendos da paz" que poderiam surgir de um governo disposto a conversar com o palestinos.
Embora o direitista partido Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, seja tradicionalmente visto como mais pró-negócios, líderes industriais dizem ser improvável que um governo liderado pela oposicionista União Sionista busque uma agenda prejudicial aos negócios.
Apesar de um governo de centro-esquerda poder gastar mais em questões sociais e de bem-estar, os benefícios potenciais de um retorno a um processo de paz superam os riscos, segundo líderes industriais.
O foco da campanha de Netanyahu –-as questões de segurança e a ameaça representada pelo programa nuclear do Irã-– não conseguiu inspirar os eleitores, que dizem ter como principal preocupação as questões econômicas. Depois de nove anos no poder, e mais de três mandatos, há também algum cansaço de Netanyahu.
Dov Moran, empresário do setor de alta tecnologia e desenvolvedor do pendrive, disse acreditar que para Israel ser um sucesso econômico, a paz é necessária.
Moran é parte de um grupo sem fins lucrativos chamado Quebrando o Impasse, formado por 200 líderes empresariais para promover o retorno de israelenses e palestinos à mesa de negociações.
"Isso não tem que ser uma paz quente, não significa que temos de abraçar nossos vizinhos todos os dias ou esperar que eles venham nos abraçar. Mas deve haver um processo onde possamos negociar com eles e viver uma vida normal, onde nem tudo seja ditado pelo Irã, o Irã, o Irã", disse Moran à Reuters.
As últimas pesquisas de opinião antes da votação de terça-feira mostram a União Sionista, liderado por Isaac Herzog e a ex-negociadora de paz Tzipi Livni, a caminho de conquistar entre 24 e 26 assentos dos 120 do Parlamento (o Knesset), enquanto o Likud teria de 20 a 22.
Os críticos dizem que Netanyahu, embora tenha feito um bom trabalho ao limitar os gastos fiscais, pouco fez nos últimos seis anos para enfrentar o rápido aumento dos preços das casas, a elevação do custo de vida ou a deterioração dos padrões de educação e de saúde.
"Não há dúvida de que, se formos para um processo de paz, os gastos com segurança deverão diminuir e isso claramente permitiria dividir o bolo de forma diferente, e até mesmo fazer o bolo crescer", disse Moran.
O presidente da associação que reúne líderes da indústria, Shraga Brosh, disse que Herzog provavelmente se empenharia mais do que Netanyahu para renovar as conversações, mergulhadas em impasse, o que beneficiaria Israel, abrindo um mercado para o comércio com seus vizinhos árabes.
Com 4,5 milhões de palestinos vivendo na Cisjordânia e em Gaza, qualquer progresso que rompa fronteiras e aumente o comércio e a atividade econômica é considerado positivo para ambos os lados.
Membros do Partido Trabalhista, de Herzog, criticam a política do governo de dar incentivos fiscais e subsídios à Intel e outras multinacionais em troca de investir em Israel. Mas não se espera que tais políticas pró-negócios e favoráveis ao investimento mudem significativamente se a oposição vencer.
"Quando estava no governo, o Partido Trabalhista adotou políticas bastante favoráveis à alta tecnologia em Israel, em todas as formas - tributação, subvenções, políticas de exportação", disse Yoram Oron, sócio-gerente da Vertex Venture Capital, um dos principais investidores na empresa do aplicativo de navegação Waze.
"Os políticos entendem que ter multinacionais de sucesso em Israel é bom para o segmento de startups."
(Reportagem de Sonya Hepinstall)