Por Michelle Martin
BERLIM (Reuters) - A Alemanha disse nesta segunda-feira que o resultado apertado do referendo da Turquia sobre a ampliação dos poderes do presidente turco, Tayyip Erdogan, é uma grande responsabilidade para o líder e uma mostra de como a sociedade turca está dividida.
A chanceler alemã, Angela Merkel, e seu ministro das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, também disseram que as autoridades de Ancara precisam abordar os temores a respeito do conteúdo e do procedimento da votação de domingo, expressos por um conselho de especialistas legais da Europa.
Erdogan declarou uma vitória apertada no referendo, que marcou a maior reformulação da política turca moderna. Seus opositores afirmaram que a votação foi afetada por irregularidades e que irão contestar o resultado.
Merkel e Gabriel, cujo país tem cerca de 3 milhões de habitantes com ascendência turca, disseram estar cientes de que o resultado preliminar deu a vitória ao campo do "sim". Os números oficiais são esperados em 12 dias.
"O governo alemão... respeita o direito dos cidadãos turcos decidirem sua própria ordem constitucional", pronunciaram-se em um comunicado.
"O resultado apertado do referendo mostra o quão dividida a sociedade turca está, e isso significa uma grande responsabilidade para a liderança turca e para o presidente Erdogan pessoalmente."
Eles esperam que Ancara tenha um "diálogo respeitoso" com todas as partes da sociedade turca e seu espectro político após uma campanha dura.
A comissária alemã da integração, Aydan Ozoguz, alertou contra as críticas a turcos que moram na Alemanha pela maneira como votaram, dizendo ao jornal regional Saarbruecker Zeitung que só cerca de 14 por cento deste contingente votou no "sim" e acrescentando que a maioria dos imigrantes não votou.
Os comentários da Alemanha ecoaram na França, onde o presidente François Hollande disse: "Cabe aos turcos e só a eles decidir como organizam suas instituições políticas, mas os resultados publicados mostram que a sociedade turca está dividida sobre as profundas reformas planejadas."
No domingo, a Comissão Europeia disse que a Turquia deveria buscar um consenso nacional amplo a respeito das emendas constitucionais, dada a margem estreita da maioria favorável ao "sim" e a extensão de seu impacto.
Merkel e Gabriel ressaltaram as reservas da comissão e disseram que, como membro do Conselho Europeu e da agência de segurança e direitos humanos da Organização para Cooperação e Segurança na Europa (OSCE, na sigla em inglês) e candidata a filiação à União Europeia, a Turquia deveria tratar dessas preocupações rapidamente.