Elizabeth Pineau
KINSHASA (Reuters) - Emmanuel Macron compartilhou sua visão de uma nova parceria com a África, na qual o continente estaria em pé de igualdade com a França, ao concluir uma viagem em que procurou dissipar a imagem do seu país como uma ex-potência colonial arrogante, ao mesmo tempo em que tentou semear uma futura influência.
O presidente francês reuniu-se neste sábado com o presidente Felix Tshisekedi na capital da República Democrática do Congo que, nesta semana, recebeu vários pequenos protestos --sinais do sentimento anti-francês crescente em partes da África francófona.
Em uma entrevista coletiva conjunta, Macron reconheceu que a França está entre potências estrangeiras que disputam influência na África, mas disse estar comprometido a trabalhar com os Estados em pé de igualdade.
“Queremos ser parceiros de longo prazo”, disse. “A África é um palco de competição. Tem que ser feita dentro de uma estrutura justa… Temos nosso papel a desempenhar, nem mais, nem menos.”
Essa foi a 18ª visita de Macron à África como presidente e a viagem acontece depois de uma série de turnês africanas de autoridades de primeiro escalão de Estados Unidos, Rússia e China, buscando aproximar os laços.
A França passou por colapsos turbulentos de relações com algumas ex-colônias na África Ocidental, e as visitas que fez pela primeira vez a Congo, Gabão, Angola e República Democrática do Congo esta semana refletem a vontade de Macron de virar a página.
Na segunda-feira, ele apresentou a nova política da França para a África, dizendo que bases militares seriam co-administradas com as nações que as abrigam e que interesses comerciais e de outros fins seriam buscados com respeito e humildade.
Tshisekedi aprovou a nova abordagem e disse que a França precisa ouvir o que o povo africano quer, caso espere competir com outros candidatos a parceiros do continente.
“Françafrique é uma coisa do passado”, disse, referindo-se aos vínculos truncados que viu Paris por vezes priorizar ganhos comerciais e apoiar regimes autocráticos em antigas colônias.
De qualquer maneira, sinais de tensão surgiram na última entrevista coletiva, quando Macron pareceu indicar que a insegurança no Congo desde 1994 é, no geral, culpa do próprio país.
“Desculpe dizer em termos tão duros, vocês não têm sido capazes de restaurar sua soberania”, disse.
O leste do Congo tem sofrido com instabilidade e conflitos desde os anos 1990, com milhões de mortes e o surgimento de dúzias de milícias, algumas das quais continuam ativas.
A nova abordagem da França chega em meio a uma crise de segurança que se aprofunda na região do Sahel, na África Ocidental, que alimentou protestos anti-França e levou juntas ao poder em Burkina Faso e Mali, que rejeitaram laços militares de longa data.
(Reportagem de Elizabeth Pineau; Reportagem adicional de Sonia Rolley em Paris)