Por Catarina Demony
LONDRES (Reuters) - Até o momento, mais de 400 supostas vítimas entraram em contato com a equipe jurídica que trabalha em um processo contra o falecido bilionário egípcio Mohamed Al Fayed, acusado de abuso sexual e estupro, disse o advogado Dean Armstrong nesta quinta-feira.
Um documentário da BBC em setembro revelou que Al Fayed, que morreu no ano passado aos 94 anos, abusou sexualmente de funcionárias de sua loja de departamentos londrina Harrods, forçou-as a fazer exames médicos e as ameaçou com consequências se elas tentassem reclamar.
"A grande escala de abuso perpetrado por Al Fayed, e facilitado por aqueles que o cercavam, infelizmente, continua a crescer", disse Armstrong em uma entrevista coletiva em Londres.
Al Fayed sempre negou acusações semelhantes levantadas por outras reportagens antes de sua morte. A Harrods não respondeu a um pedido de comentário da Reuters sobre as declarações do advogado em um primeiro momento.
A loja se desculpou, disse estar "chocada" com as alegações e abriu um processo para qualquer funcionário ou ex-funcionário da Harrods que deseje pedir indenização.
Outro advogado, Bruce Drummond, disse que as mais de 400 reclamações foram feitas por mulheres de todo o mundo, principalmente do Reino Unido, mas também de Estados Unidos, Austrália, Malásia, Espanha, África do Sul e outros países.
"Isso, em nossa opinião, é um abuso em escala industrial", disse Drummond, acrescentando que o abuso ocorreu "dentro das paredes da Harrods", mas também em outros locais ligados ao império empresarial de Al Fayed, como o Fulham Football Club, o Ritz Paris e sua propriedade em Surrey.
As vítimas incluem a filha de um ex-embaixador dos Estados Unidos ao Reino Unido e a filha de um conhecido jogador de futebol, afirmou Drummond, sem citar nomes.
Segundo o documentário da BBC, a Harrods não interveio e ajudou a encobrir as alegações de abuso durante o período em que ele foi proprietário.
Os advogados criticaram o esquema de indenização operado pela Harrods, dizendo que algumas das vítimas não se sentem à vontade para entrar em contato diretamente com a Harrods para obter indenização porque foi lá que o abuso ocorreu.
Drummond disse que alguns membros seniores da equipe da época de Al Fayed ainda trabalham na Harrods.
Na semana passada, o Financial Times informou que quatro supostas vítimas haviam abandonado o esquema de indenização da Harrods devido a suas preocupações com possíveis conflitos de interesse e comunicação deficiente.
Várias organizações de imprensa haviam relatado alegações de abuso sexual contra Al Fayed antes do documentário da BBC, incluindo a Vanity Fair em 1995, a ITV em 1997 e o Channel 4 em 2017. Os advogados disseram em setembro que muitas das mulheres só se sentiram capazes de falar publicamente na reportagem da BBC depois que ele morreu no ano passado.