MARIANA, Minas Gerais (Reuters) - A prefeitura de Mariana (MG) contabilizou nesta segunda-feira 25 pessoas desaparecidas com o rompimento de barragens da mineradora Samarco, na semana passada, e contou 601 desabrigados, que estão alojados em hotéis da região histórica de Minas Gerais.
Autoridades reduziram nesta segunda-feira o número de desaparecidos depois de uma das vítimas ter sido confirmada como morta e duas pessoas terem sido encontradas em um hotel.
Até o momento, duas mortes foram confirmadas pelas autoridades como resultado da tragédia e mais dois corpos foram encontrados no local, mas ainda não foram confirmados pelos bombeiros como de vítimas do incidente.
Entre os desaparecidos estão 12 trabalhadores da mineradora e 13 moradores. Três pessoas feridas no incidente estão internadas no hospital João 23, em Belo Horizonte.
Os mais de 600 desabrigados --anteriormente tinham sido contabilizados pouco mais de 580-- estão hospedados em hotéis da região de Mariana, muitos deles tomando pousadas do centro histórico da cidade.
Quatro dias após uma avalanche de lama inundar um vilarejo próximo à mina de ferro no sudeste de Minas Gerais, autoridades ainda lutam para determinar as causas do incidente e recuperar os corpos de pessoas que podem ter sido levadas pela correnteza.
A enxurrada, carregando água e lama com restos de minerais das minas, inundou áreas a até 100 quilômetros de distância do local dos rompimentos.
Nem as autoridades e nem a operadora da mina, a Samarco --uma joint venture da maior companhia de mineração do mundo, BHP Billiton e a Vale-- determinaram as causas da ruptura até o momento.
DRAMA FAMILIAR
Com duas tatuagens nos braços em homenagem à mãe, o auxiliar de topografia Marcelo José Felício não tem notícias dela dias depois da tragédia que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, onde morava.
"Ninguém me fala nada, não sei se ela está viva, nem sei se ela está na lista de desaparecidos, já espalhei fotos dela para ver se alguém encontra", afirmou ele, referindo-se a Maria das Graças Celestina da Silva.
Funcionário da companhia Integral Engenharia há três meses, Felício trabalhava no projeto de ampliação das barragens dez minutos de tudo entrar em colapso.
"Nós estávamos trabalhando em cima de uma bomba relógio, a qualquer hora isso podia acontecer, eu trabalhava lá com esse medo... minha esposa dizia para eu nem ficar lá, mas na crise que estamos hoje, nessa crise que o Brasil passa, eu desempregado, casado, minha casa em construção, vou viver de quê?", questionou ele, que está hospedado em um hotel no centro histórico de Mariana.
Segundo o trabalhador, a empresa dizia que a barragem não representava risco.
"Minha mãe tomava banho às quatro horas (horário aproximado do incidente), ela é muito idosa, não ia conseguir se salvar", comentou.
A casa que Felício estava construindo, para mudar-se com a esposa e tirar sua mãe de um quartinho onde morava sozinha, estava quase pronta.
"Eu morava com minha sogra, ia levar minha mãe para morar na minha casa nova, ela tinha medo de chuva, queria que ela ficasse em um quarto do lado do meu", afirmou.
(Reportagem de Stephen Eisenhammer e Marta Nogueira; texto de Roberto Samora; edição de Gustavo Bonato)