YANGON (Reuters) - Ao final de uma semana de detenção de dois jornalistas da Reuters em Mianmar nesta terça-feira, ainda não se tem notícias de onde eles estão sendo mantidos, mas as autoridades estão levando adiante uma investigação para determinar se os repórteres violaram a Lei de Segredos Oficiais do país, que data dos tempos coloniais.
Os jornalistas Wa Lone, de 31 anos, e Kyaw Soe Oo, de 27, foram presos na noite da terça-feira passada depois de serem convidados para jantar com policiais nos arredores de Yangon, a maior cidade de Mianmar. "Nós e suas famílias continuamos a ter negado o acesso a eles ou às informações mais básicas sobre seu bem-estar e seu paradeiro", disse o presidente e editor-chefe da Reuters, Stephen J. Adler, em um comunicado, pedindo a libertação imediata dos dois.
"Wa Lone e Kyaw Soe Oo são jornalistas que desempenham um papel crucial para lançar luz sobre notícias de interesse global, e são inocentes de qualquer irregularidade".
O presidente civil de Mianmar, Htin Kyaw, aliado próximo da líder do governo, Aung San Suu Kyi, autorizou a polícia a instaurar um processo contra os repórteres, disse um porta-voz do governo no domingo. É necessário obter a aprovação do gabinete do presidente antes de se iniciar um processo apresentado em observância à Lei de Segredos Oficiais, que pode resultar em penas máximas de 14 anos de prisão.
Os dois jornalistas realizavam uma cobertura da Reuters sobre uma crise que levou estimados 655 mil muçulmanos rohingyas a fugir de uma operação de repressão militar intensa contra militantes de Rakhine, Estado do oeste do país.
Vários governos, incluindo Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, além de uma série de grupos de jornalistas e de direitos humanos, criticaram as prisões, que viram como um ataque à liberdade de imprensa, e pediram a Mianmar para soltar ambos.
Mianmar testemunhou um crescimento rápido da mídia independente desde que a censura imposta por uma junta foi suspensa em 2012.
Grupos de direitos humanos tinham esperança de ver novos avanços na liberdade de imprensa depois que Suu Kyi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, chegou ao poder no ano passado em meio a uma transição do controle militar pleno durante a qual passou de prisioneira política a líder eleita.
Mas grupos de ativistas dizem que a liberdade de expressão foi erodida desde que ela tomou posse, dadas as muitas prisões de jornalistas, restrições a notícias de Rakhine e o uso intenso da mídia estatal para controlar o noticiário.
(Por Yimou Lee, Shoon Naing e Simon Lewis)