Por Daniel Ramos e David Mercado
LA PAZ (Reuters) - A polícia e as forças militares da Bolívia utilizaram veículos blindados e helicópteros para desobstruir o acesso a uma grande instalação de gás na cidade de El Alto nesta terça-feira, em uma demonstração de força após os bloqueios na entrada da planta terem interrompido a oferta de combustível a La Paz.
Os helicópteros sobrevoaram estradas nas proximidades da instalação de gás de Senkata, operada pela estatal YPFB, que estavam bloqueadas por diversos pneus incendiados, de acordo com testemunha da Reuters. Os manifestantes demandam o retorno do ex-presidente Evo Morales.
Morales renunciou em 10 de novembro, em meio a protestos contra seu governo e a crescente pressão causada pelas alegações de fraudes eleitorais, após uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) encontrar graves irregularidades no pleito de 20 de outubro.
Desde então, porém, apoiadores de Morales ampliaram suas manifestações, exigindo a renúncia da presidente em exercício Jeanine Áñez e o retorno do ex-presidente. A crescente violência no país já resultou na morte de mais de 20 pessoas em disputas nas ruas.
DESESPERO
Os bolivianos estão começando a sentir os efeitos colaterais das semanas de tumultos no país sul-americano, já que os bloqueios dos apoiadores de Evo Morales em rotas de transporte cruciais estão agravando a falta de combustíveis e deixando os mercados desabastecidos de produtos básicos.
Em La Paz, a sede do governo, as ruas estão silenciosas porque as pessoas estão economizando gasolina, enquanto a procura por alimentos cria filas. Pessoas se alinharam com galões de gasolina perto da instalação de combustível interditada de Senkata nesta terça-feira.
Imagens mostraram alguns caminhões-tanque aparentemente furando os bloqueios, com uma forte presença militar e policial.
"Infelizmente isso está acontecendo há três, quatro semanas, então as pessoas estão desesperadas para comprar tudo que encontram", disse Ema Lopez, aposentada de 81 anos de La Paz.
Daniel Castro, trabalhador de 63 anos que mora na capital, culpa Morales pelo que chamou de "terrorismo alimentar".
"Isso é o caos, vocês estão vendo o caos na Praça Villarroel (de La Paz), com mais de 5 mil pessoas esperando para ter um frango", disse.
O ministro de Hidrocarbonetos do país, Victor Hugo Zamora, afirmou nesta terça-feira que está tentando liberar o fornecimento de combustíveis para La Paz. Ele pediu que os movimentos pró-Morales se juntem às negociações e permitam que as atividades econômicas sejam retomadas.
(Reportagem de Daniel Ramos, David Mercado, Monica Machicao, Miguel Lo Bianco e Gram Slattery)