Por Lucinda Elliott e Horacio Cordoba
RIO GALLEGOS, Argentina (Reuters) - O bisavô de Catalina Cepernic, Jorge, proprietário de uma fazenda de ovelhas na Patagônia argentina, foi o primeiro membro da família conquistado pelas ideias de Juan Domingo Perón, o ex-presidente que gerou o movimento político mais poderoso do país.
Os discursos de Perón em meados dos anos 1940 defendendo melhores condições trabalhistas, salários e aposentadorias estatais ressoaram com Jorge, segundo sua família, enquanto ele ouvia o líder carismático pelo rádio na sua fazenda em um canto remoto da América do Sul.
A família Cepernic continua peronista, três gerações do clã disseram à Reuters, mas o apoio ao movimento enfraqueceu. Isso pode ser um sinal de alerta antes da eleição presidencial do próximo domingo, com pesquisas de opinião indicando que será uma disputa acirrada na qual o governo peronista corre o risco de ser derrubado por um outsider libertário radical.
Catalina, de 27 anos, planeja apoiar os peronistas, mas disse que muitos membros da família, que ainda vivem na fazenda ou nos arredores, votariam em branco, o que foi confirmado em entrevistas com seu pai, tia e seu avô, filho do falecido Jorge.
O peronismo buscou preservar as promessas de justiça social de Perón, mas é um movimento nebuloso e em mutação que ao longo das décadas selecionou políticas de todo o espectro ideológico, governou a Argentina por mais da metade dos anos desde a primeira presidência de Perón, nos anos 1940, e está no poder atualmente desde 2019.
Agora, seu candidato à Presidência, o ministro da Economia, Sergio Massa, corre o sério risco de derrota no segundo turno da eleição de domingo contra Javier Milei, libertário de extrema-direita que quer reduzir o tamanho do Estado e "detonar" o status quo político.
Isso acontece em meio à pior crise econômica da Argentina em cerca de duas décadas, com inflação em 143%, dois quintos dos argentinos vivendo na pobreza e uma recessão no horizonte, com muitos culpando os peronistas pelos problemas econômicos, especialmente a poderosa ala de esquerda do movimento.
"Em casa, a política sempre esteve presente antes", disse Catalina. "Hoje, eu não me identifico com o peronismo e não tenho certeza se suas políticas refletem o que meus parentes lutaram todos aqueles anos atrás."
(Reportagem de Lucinda Elliott em Buenos Aires e Horacio Cordoba em Rio Gallegos)