Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, usou nesta terça-feira um tom de campanha em boa parte de seu discurso na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta terça-feira, a menos de duas semanas do primeiro turno, exaltando bons dados econômicos e feitos do seu governo, além de atacar o ex-presidente e favorito nas eleições, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Bolsonaro só deixou o figurino de candidato no discurso de cerca de 20 minutos quando defendeu o imediato cessar-fogo na Guerra da Ucrânia, ocasião em que defendeu a reforma da ONU, como essencial para se encontrar a paz mundial. "Somos contra o isolamento diplomático e econômico", disse, buscando manter a posição de neutralidade no conflito do país com a Rússia.
O presidente brasileiro fez uma espécie de balanço da sua gestão no Planalto. Apesar das críticas pelas 685 mil mortes na pandemia, por ter demorado em negociações pelas vacinas e por ter defendido um tratamento ineficaz contra a Covid-19, ele disse não ter poupado esforços para salvar vidas e empregos durante a crise sanitária, citando o auxílio emergencial que beneficiou os mais vulneráveis e a vacinação que já imunizou 80% dos brasileiros contra a doença.
Bolsonaro afirmou que, apesar da crise mundial, a economia brasileira está em "plena recuperação", com emprego em alta, inflação em baixa, ainda que alta de preços tenha avançado em todo o mundo sob o impacto da pandemia.
"Reduzimos a inflação, com estimativa de 6% no corrente ano. Tenho a satisfação de anunciar que tivemos deflação inédita no Brasil nos meses de julho e agosto", disse ele, que não mencionou que a deflação nos dois últimos meses foi resultado principalmente da queda nos preços dos combustíveis --devido a cortes de impostos e ao recuo do petróleo no mercado intrernacional-- e ocorreu após forte alta dos preços durante o primeiro semestre do ano.
Bolsonaro comemorou os bons números recentes da economia, com projeção oficial de crescimento de 2,7% para 2022. "A projeção de crescimento para 2022 chega a 3%", disse.
O presidente também defendeu o Brasil, que deve a colher a maior safra de grãos da história, como modelo de desenvolvimento sustentável, ainda que seu governo venha sendo alvo de fortes críticas pela política ambiental.
Em 2022, 7.135 quilômetros quadrados foram desmatados na Amazônia de janeiro a agosto de 2022, um aumento de 19% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que coleta os dados.
AGENDA INTERNA
Na reta final do primeiro turno e em desvantagem em relação a Lula, Bolsonaro passou por Londres para o funeral da rainha Elizabeth antes de chegar a Nova York para a reunião da ONU. Na campanha, segundo uma fonte, as viagens tiveram como objetivo mostrar o presidente como um estadista e as realizações do governo, ainda que o presidente tenha sido proibido de usar as imagens do Reino Unido no programa eleitoral.
Resta saber se Bolsonaro poderá usar na TV o que falou no púlpito da ONU, onde comemorou as manifestações populares convocadas por ele no 7 de Setembro e citou escândalos de corrupção que envolveram a Petrobras (BVMF:PETR4), no período em que "a esquerda presidiu o Brasil".
"O responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade", disse Bolsonaro, referindo-se indiretamente a Lula.
Em abril do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou condenações do petista no âmbito da operação Lava Jato, garantindo a Lula os direitos políticos para concorrer nas eleições presidenciais de 2022.
Ainda mirando o público interno, o presidente exaltou a pauta conservadora de costumes, citando a defesa da família, criticando a chamada "ideologia de gênero", e o que chama de prioridade na proteção das mulheres. Bolsonaro tem tido grande dificuldade na votação no eleitorado feminino, segundo pesquisas de intenção de voto.