Por Marianna Parraga e Matt Spetalnick e Lisandra Paraguassu
HOUSTON/WASHINGTON/BRASÍLIA (Reuters) - Mais de duas semanas depois que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, reivindicou a vitória na eleição presidencial venezuelana, os Estados Unidos e outros países ocidentais estão dando poucos sinais de que planejam impor rapidamente medidas duras para o que muitos deles condenaram como fraude eleitoral.
A maioria dos governos exigiu que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela divulgasse um conjunto completo de atas da apuração dos votos depois que tanto Maduro quanto o candidato da oposição, Edmundo González, declararam que venceram o pleito
O Brasil e outros países têm tentado garantir conversações entre os dois lados, rivais políticos que não se conciliam há décadas.
Os protestos contra Maduro nos dias que se seguiram à eleição foram recebidos com repressão governamental, com as autoridades denunciando as manifestações como uma tentativa de "golpe". O confronto deixou 23 mortos e mais de 2.000 pessoas presas, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU) na segunda-feira.
Os governos ocidentais estão tentando reagir "lentamente", disse um funcionário de embaixada, que falou sob condição de anonimato porque não estava autorizado a falar publicamente sobre o assunto. Nenhum governo quer ser o primeiro em nada, acrescentou.
A resposta comedida vem porque eles estão cientes do que aconteceu após a reeleição de Maduro em 2018, disseram três autoridades de diferentes países.
Naquela ocasião, a votação foi rapidamente condenada como uma farsa e levou às sanções mais severas já impostas ao país pertencente à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Um governo interino liderado pela oposição e que jamais chegou a assumir o poder foi amplamente reconhecido no exterior, mas o esforço acabou se evaporando, fortalecendo Maduro no poder.
Em Washington, que, sob o comando do presidente republicano Donald Trump, bloqueou as exportações de petróleo essenciais da Venezuela, parece haver pouco apetite por sanções mais severas. Até o momento, as autoridades democratas dos EUA ameaçaram, mas não impuseram novas medidas punitivas.
O governo do presidente norte-americano, Joe Biden, tem se empenhado em não complicar o caminho a ser seguido pela oposição, liderada por Maria Corina Machado e por González, já que os venezuelanos buscam "até mesmo pequenas concessões" de Maduro, disse uma pessoa familiarizada com o pensamento de Washington.
Algumas dessas concessões estão relacionadas a canais de comunicação abertos entre os dois lados, que a oposição espera que possam levar a um veredicto imparcial sobre os resultados da eleição e a uma possível transição política.
Uma revisão dos resultados pela Suprema Corte da Venezuela provavelmente levará tempo e pode não chegar a uma opinião imparcial, uma vez que ela é composta por aliados de Maduro.
As autoridades dos EUA estão entrando em contato com parceiros regionais e internacionais para organizar uma resposta coordenada, disseram as três fontes. Cautelosamente, os EUA reconheceram González como o vencedor da eleição de 28 de julho, mas não o chamaram de presidente eleito.
"Agora é a hora de os partidos venezuelanos iniciarem discussões sobre uma transição respeitosa e pacífica", disse o porta-voz adjunto do Departamento de Estado dos EUA, Vedant Patel, na segunda-feira.
Washington está considerando uma série de opções "para pressionar Maduro a retornar a Venezuela a um caminho democrático", acrescentou.
No entanto, as opções restantes do governo Biden parecem ser limitadas. Em abril, os EUA reimpuseram algumas sanções petrolíferas à Venezuela, acusando Maduro de renegar seus compromissos eleitorais, e aplicaram diversas sanções individuais nos últimos cinco anos, inclusive contra o chefe do CNE, Elvis Amoroso.
As autoridades norte-americanas expressaram preocupação com o fato de que a agitação pós-eleitoral poderia estimular mais venezuelanos a deixarem o país e se dirigirem para a fronteira entre os EUA e o México, de acordo com a fonte baseada em Washington. Como a imigração já é uma questão polêmica, isso poderia criar novos problemas para a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, em sua campanha para presidente.
O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela e o Departamento do Tesouro dos EUA não responderam imediatamente aos pedidos de comentários. "Não discutiremos o conteúdo de nossas discussões diplomáticas privadas", disse um porta-voz do Departamento de Estado à Reuters.
AMÉRICAS FRAGMENTADAS
A Organização dos Estados Americanos (OEA), sediada em Washington, não conseguiu chegar a um acordo sobre uma resposta conjunta, mesmo quando a Cooperação e Observação Eleitoral do grupo regional emitiu um relatório detalhado sobre "ilegalidades, falhas e más práticas" durante a eleição.
"Os resultados oficiais não são confiáveis ou merecedores de reconhecimento democrático", concluiu o relatório de 30 de julho.
Os presidentes de Brasil, México e Colômbia estão coordenando ações enquanto pedem acesso total às atas de votação, enquanto uma coalizão que inclui os EUA, Canadá, Panamá e outros está mantendo conversações separadas entre si e com a oposição da Venezuela, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
O Panamá ofereceu asilo político a Maduro -- uma oferta controversa, já que ele está sendo investigado pelo Tribunal Penal Internacional por alegações de violações de direitos humanos -- e convocou uma cúpula regional para discutir o resultado da eleição.
O Brasil não reconhecerá a vitória de Maduro sem a divulgação completa das atas e a validação dos resultados, disse uma fonte do governo brasileiro, acrescentando que as preocupações das autoridades com a escalada da violência e as ameaças de mais prisões políticas aumentaram.
"Foram enviadas mensagens a Maduro deixando claro que a prisão de González e Machado é proibida", disse a fonte, acrescentando que o foco do Brasil é lidar com os dois lados.
Na semana passada, a União Europeia disse que não havia provas suficientes para apoiar os resultados anunciados pelo CNE, que declarou Maduro vencedor da eleição. Ela não previu nenhuma ação.
Países como China, Rússia, Nicarágua e Cuba reconheceram a vitória de Maduro e lhe ofereceram apoio.
(Reportagem adicional de Vivian Sequera, em Caracas, e Daphne Psaledakis, em Washington)