Por Jeff Mason
WASHINGTON (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nomeou um ex-conselheiro da Casa Branca como "czar" do país no combate ao Ebola nesta sexta-feira, quando o saldo de mortes da doença, que assola principalmente três países da África Ocidental, ultrapassou 4.500.
Em meio aos temores crescentes de disseminação do vírus nos EUA, autoridades informaram que uma agente de saúde do Estado do Texas que pode ter tido contato com amostras de um paciente com Ebola está em quarentena em um navio de cruzeiro.
Obama, que enfrenta críticas de alguns congressistas pela maneira como seu governo vem atuando para conter o vírus, indicou Ron Klain, um advogado que já serviu como chefe de gabinete dos vice-presidentes Joe Biden e Al Gore, para supervisionar a reação norte-americana à doença.
A nomeação de Klain e o incidente no cruzeiro ressaltaram o nervosismo com a ameaça do Ebola, embora só três casos tenham sido diagnosticados no país, todos na cidade texana de Dallas – o liberiano Thomas Eric Duncan, a primeira pessoa diagnosticada nos EUA, e duas enfermeiras da equipe que cuidou dele até sua morte, na semana passada.
As nações mais atingidas foram Serra Leoa, Libéria e Guiné, onde a febre hemorrágica deixou 4.546 mortos desde o início do surto em março, de acordo com um novo relatório desta sexta-feira da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Trata-se de um aumento intenso em relação ao final de julho, quando menos de 730 pessoas tinham morrido em decorrência da doença no oeste africano.
O fardo sobre os países mais afetados vai além da doença, por causa das interrupções na agricultura e no comércio. O Programa Mundial de Alimentos da Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que os preços da comida nestas três nações aumentaram em média 24 por cento, forçando algumas famílias a reduzir sua alimentação para uma refeição por dia.
Nos Estados Unidos, Obama procurou transmitir liderança ao indicar um coordenador. Klain, presidente da administradora de bens e negócios Case Holdings e do conselho-geral da Revolution LLC, empresa de capital de risco voltada à tecnologia sediada em Washington, foi incumbido de assumir a coordenação de todas as reações do governo norte-americano ao Ebola, reportando-se diretamente à assessora de segurança interna, Lisa Monaco, e a Susan Rice, conselheira de segurança nacional do mandatário.
A agente de saúde do hospital Texas Health Presbyterian a bordo do cruzeiro, que não teve contato direto com Duncan mas pode ter processado seus fluidos corporais – a fonte de transmissão do Ebola – , partiu no domingo de Galveston, no Texas. Ela vinha se monitorando desde 6 de outubro e não teve febre nem outros sintomas da doença, declarou o Departamento de Estado.
A operadora do cruzeiro, Carnival Cruise Lines, disse nesta sexta-feira ter notificado o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) de que uma passageira no navio Carnival Magic é uma supervisora de laboratório do Texas Health Presbyterian, e que seu caso foi considerado de "risco muito baixo".
O Departamento de Estado informou que ela pode ter manipulado amostras de Duncan 19 dias atrás – o período máximo de incubação do vírus é de 21 dias, segundo o CDC. A agente e um acompanhante se isolaram voluntariamente em sua cabine.
SUSTO E ESPERANÇA
Ilustrando o grau de preocupação pública nos EUA, o Pentágono confirmou um alarme falso de Ebola nesta sexta-feira em um de seus estacionamentos, quando uma mulher que viajou à África recentemente vomitou depois de descer de um ônibus com destino a uma cerimônia de alto nível de fuzileiros navais. O Pentágono informou que a mulher foi levada às pressas a um hospital local.
A Casa Branca informou que Obama está disposto a "manter a mente aberta" sobre a imposição de uma proibição de viagens como parte dos esforços dos EUA para combater o Ebola, mas a medida não está sendo considerada neste momento, disse o porta-voz Josh Earnest.
"Neste momento, como a nossa principal prioridade é proteger o povo norte-americano, então não vamos colocar em prática a proibição de viagens", disse Earnest, porque daria às pessoas que buscam viajar para os Estados Unidos "um incentivo a não serem sinceras sobre seu histórico de viagem."
Na quinta-feira, Obama autorizou a convocação de militares reservistas para a luta de seu país contra o Ebola no oeste africano.
Em um sinal de que a doença pode ser debelada, a OMS anunciou nesta sexta-feira que o Senegal, localizado na mesma região da África, está livre do Ebola, ainda que continue vulnerável a novos casos.
(Reportagem adicional de Doina Chiacu, Mohammad Zargham, Frances Kerry e Jeff Mason em Washington, Jonathan Kaminsky em Nova Orleans e Curtis Skinner em São Francisco)