Por Ece Toksabay
ISTAMBUL (Reuters) - O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, disse que armas fornecidas pelos Estados Unidos haviam sido usadas contra civis por uma milícia curda síria, grupo que Ancara acusa por um ataque suicida a bomba com mortos nesta semana.
O Departamento de Estado norte-americano afirmou que os EUA “não haviam fornecido nenhuma arma de nenhum tipo” para a milícia YPG, e a Casa Branca declarou que o presidente Barack Obama telefonou para Erdogan para oferecer o pesar norte-americano por conta do atentado a bomba de quarta-feira na capital turca.
Washington considera os combatentes curdos sírios aliados úteis contra o Estado Islâmico, mas a Turquia vê o grupo como uma organização terrorista ligada aos militantes curdos insurgentes em território turco.
O tema pode criar uma divisão entre os aliados da Otan num momento crítico da guerra civil síria, quando os EUA buscam negociações intensas com a Rússia, aliada da Síria, para conseguir uma “interrupção das hostilidades”.
A Turquia acusa a milícia YPG pelo ataque suicida com um carro-bomba que há dois dias matou 28 pessoas, a maioria soldados. No entanto, um grupo separatista curdo com base na Turquia assumiu a responsabilidade pela ação e ameaçou novos atentados.
Antes do telefonema com Obama, Erdogan se disse triste por causa da recusa ocidental de chamar a milícia curda síria de terrorista e afirmou que explicaria ao presidente Obama como armas fornecidas pelos EUA ajudaram o grupo.
Fontes turcas disseram que a chamada telefônica durou uma hora e 20 minutos.
“Eu vou dizer: ‘Olhe como e onde aquelas armas que você forneceu foram usadas’”, disse Erdogan a jornalistas em Istambul.
"Meses atrás em minha reunião com ele, eu disse que os EUA estavam fornecendo armas. Chegaram três carregamentos em aviões, metade terminou nas mãos do Daesh (Estado Islâmico), e metade nas mãos do PYD (o partido dos curdos sírios)”, declarou ele.
"Contra quem essas armas foram usadas? Elas foram usadas contra civis e causaram as suas mortes.”
Ele pareceu se referir aos 28 pacotes de carga militar jogados do ar pelos EUA no fim de 2014 para combatentes curdos iraquianos perto da cidade síria de Kobani. Autoridades do Pentágono disseram então que um havia caído nas mãos do Estado Islâmico. Mais tarde, o Pentágono afirmou ter atingido o pacote desaparecido num ataque aéreo e o destruído.
Os EUA dizem não considerar a YPG um grupo terrorista. Um porta-voz do Departamento de Estado afirmou na quinta-feira que Washington não estava na posição de negar ou confirmar a acusação turca de que a milícia estava por trás do atentado em Ancara.