Por Robin Emmott e Sabine Siebold
BRUXELAS (Reuters) - A Otan disse nesta quarta-feira que está disposta a conversar com a Rússia sobre controle de armas e implantação de mísseis, mas não permitirá que Moscou vete a ambição da Ucrânia de se juntar à aliança, alertando para um risco real de uma nova guerra na Europa.
A oferta do secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, atendeu apenas a uma fração das amplas demandas apresentadas pela Rússia, que levou o Ocidente à mesa de negociações ao reunir cerca de 100.000 soldados perto da fronteira com a Ucrânia.
Stoltenberg disse após quatro horas de conversas entre embaixadores da aliança e uma delegação russa em Bruxelas que a Otan não deixaria Moscou ditar arranjos de segurança para outros países e criar perigosas esferas de influência.
"Existe um risco real de novos conflitos armados na Europa", disse Stoltenberg em entrevista coletiva.
"Existem diferenças significativas entre os aliados da Otan e a Rússia", disse ele. "Nossas diferenças não serão fáceis de superar, mas é um sinal positivo que todos os aliados da Otan e a Rússia se sentaram em torno da mesma mesa e se engajaram em tópicos substantivos."
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Grushko, disse que Moscou está pronta para falar sobre armas e medidas de verificação, mas não permitirá que suas propostas sejam escolhidas a dedo.
"VULNERABILIDADES"
Em uma longa entrevista coletiva, Grushko afirmou que a Rússia não pode levar a sério a afirmação da Otan de ser uma aliança defensiva que não representa ameaça a ela, e disse que responderia simetricamente a qualquer tentativa de contê-la ou intimidá-la.
"Se houver uma busca por vulnerabilidades no sistema de defesa russo, também haverá uma busca por vulnerabilidades na Otan", declarou ele.
"Esta não é nossa escolha, mas não haverá outro caminho se não conseguirmos reverter o atual curso muito perigoso dos eventos."
Grushko disse mais tarde que Moscou usaria meios militares para neutralizar ameaças à segurança se a diplomacia se mostrasse insuficiente.
De acordo com a agência de notícias Interfax, o vice-ministro da Defesa russo, Alexander Fomin, afirmou que o fato de a Otan "ignorar" as propostas de segurança russas criou o risco de "incidentes e conflitos".
A Rússia nega planejar invadir a Ucrânia, mas diz que precisa de uma série de garantias para sua própria segurança, incluindo a suspensão de qualquer expansão da Otan e a retirada das forças da aliança das nações da Europa Central e Oriental que se juntaram a ela após a Guerra Fria.
A vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, que liderou a delegação dos EUA nas negociações com a Rússia em Genebra na segunda-feira, disse que era difícil entender por que uma Rússia com armas nucleares se sentiu ameaçada por seu vizinho muito menor e estava realizando exercícios de tiro real perto de sua fronteira.
"Do que se trata? Trata-se de invasão? Trata-se de intimidação? Trata-se de tentar ser subversivo? Não sei, mas não conduz a soluções diplomáticas", disse ela.
A Rússia não se comprometeu a diminuir a escalada, disse ela, mas também não disse que não o faria.
Stoltenberg disse que qualquer uso da força russa contra a Ucrânia seria um grave erro político pelo qual a Rússia pagaria um alto preço.
(Reportagem adicional de François Murphy em Viena e Dmitry Antonov em Moscou)