Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O papa Francisco evocou nesta quarta-feira o espectro de uma guerra nuclear, onde quem quer que restasse da humanidade teria que começar tudo de novo no "dia seguinte", e pareceu pedir a Deus para parar o agressor na Ucrânia.
Aos 85 anos, Francisco dedicou seu discurso em sua audiência geral semanal ao envelhecimento e à corrupção na sociedade, contando a história bíblica do Grande Dilúvio que Deus usou para punir uma humanidade pecadora e corrupta e da qual apenas Noé e sua família sobreviveram.
"Nossa imaginação parece cada vez mais concentrada na representação de uma catástrofe final que nos extinguirá", disse ele, saindo do texto preparado para acrescentar: "como a que aconteceria com uma eventual guerra atômica".
"No 'dia seguinte', se ainda houver dias e seres humanos - teremos que começar de novo do nada", disse ele, sem mencionar especificamente a guerra na Ucrânia naquela parte da audiência, realizada diante de milhares de pessoas dentro do Vaticano.
Minutos depois, porém, baixou a voz e, em tom sombrio, leu uma oração sobre a guerra na Ucrânia escrita por um arcebispo italiano.
"Senhor Jesus Cristo, filho de Deus, imploramos que você pare a mão de Caim", disse ele, referindo-se ao personagem bíblico que se voltou contra seu próprio irmão, atacando-o e matando-o.
Francisco, que anteriormente chamou a guerra de "agressão armada inaceitável", não citou nenhum país na quarta-feira.
A oração continuou, dizendo: "Quando você (Deus) parar a mão de Caim, cuide dele também. Ele é nosso irmão."
Moscou diz que sua ação não visa ocupar território, mas desmilitarizar e "desnazificar" seu vizinho.
A Rússia chama sua ação de "operação militar especial". Anteriormente, Francisco rejeitou implicitamente esse termo, dizendo que não poderia ser considerado "apenas uma operação militar", mas uma guerra que desencadeou "rios de sangue e lágrimas".
A oração que o papa leu na quarta-feira, escrita pelo arcebispo de Nápoles Domenico Battaglia, retratou Jesus como "nascido sob as bombas de Kiev" e "morto nos braços de uma mãe em Kharkiv", ou como "o jovem de 20 anos enviado para a linha de frente".
Mais cedo, na Basílica de São Pedro, o papa encontrou várias centenas de crianças italianas em idade escolar e pediu-lhes que pensassem em seus colegas na Ucrânia "que precisam escapar das bombas. Eles estão sofrendo muito e faz frio lá".