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Papa diz que impedir resgate de imigrantes no mar é “gesto de ódio”

Publicado 22.09.2023, 13:42
© Reuters. Papa Francisco chega no aeroporto de Marselha
22/09/2023
REUTERS/Yara Nardi

Por Philip Pullella

MARSELHA, França (Reuters) - O papa Francisco disse nesta sexta-feira que imigrantes que correm o risco de afogamento no mar “precisam ser resgatados”, porque fazer isso é um “dever da humanidade” e aqueles que estão impedindo os resgates cometem “um gesto de ódio”.

Francisco, 86 anos, deu a declaração em um serviço inter-religioso diante de um monumento dedicado aos que morreram no mar. Mais cedo, o arcebispo da cidade, o cardeal Jean Marc Aveline, um francês nascido na Argélia, criticou políticos que impedem ONGs e seus navios de resgatarem pessoas se afogando.

“Não podemos nos resignar a ver humanos sendo tratados como fichas de barganha, presos e torturados de maneiras atrozes”, disse Francisco. “Não podemos mais ver o drama dos naufrágios, causados pelo tráfico cruel e pelo fanatismo da indiferença.”

O papa também disse: “As pessoas que correm o risco de afogamento quando abandonadas nas ondas precisam ser resgatadas. É um dever da humanidade; é um dever da civilização”.

Algumas ONGs reclamaram que os governos impediram alguns dos seus navios de deixarem portos no Mediterrâneo por razões que, segundo os grupos, são injustificáveis. Alguns também reclamaram que seus navios foram forçados a atracar em portos longe das áreas onde os barcos de imigrantes são geralmente encontrados.

Aveline disse que “instituições políticas” cometem um “crime tão grave” quanto os que foram cometidos pelos traficantes de pessoas ao bloquearem equipes de resgate. Momentos depois, Francisco saiu do roteiro para agradecer os grupos que resgatam imigrantes.

“Muitas vezes eles o impedem de sair porque, segundo eles, falta algo ao barco, falta isso, falta aquilo. Esses são gestos de ódio contra irmãos”, disse. “Obrigado por tudo que vocês fazem.”

Nem o papa e nem Aveline nomearam governos do Mediterrâneo durante o evento no porto, que teve ecos da primeira visita de Francisco como papa, em 2013 em Lampedusa, onde fez homenagem a imigrantes que morreram no mar e condenou “a globalização da indiferença”.

2.500 MORTOS OU DESAPARECIDOS

Segundo a UNHCR, a agência de refugiados da ONU, aproximadamente 178.500 imigrantes chegaram à Europa este ano até agora por meio do Mediterrâneo, enquanto cerca de 2.500 morreram ou desapareceram ao longo do caminho.

Quase 133.000 imigrantes chegaram à Itália até agora este ano por mar, segundo dados do governo, quase duas vezes a quantidade para o mesmo período de 2022.

Operações de resgate por mar da Itália e da Grécia estão sendo observadas de perto após dois grandes naufrágios. O governo conservador italiano também foi criticado por restringir as atividades de barcos de resgate de imigrantes geridos por instituições de caridade.

Em fevereiro, um barco de imigrantes que havia saído da Turquia bateu nas rochas perto da cidade de Cutro, sul da Itália, deixando 94 pessoas mortas. Embora o navio estivesse sendo monitorado pelas autoridades, a guarda costeira não o interceptou a tempo.

Na Grécia, vários sobreviventes de um naufrágio em 14 de junho, no qual centenas de imigrantes morreram, alegaram que seu barco de pesca superlotado virou após uma tentativa sem sucesso da guarda costeira de rebocá-lo. As autoridades da Grécia negaram.

O papa, que foi recebido no aeroporto de Marselha pela primeira-ministra Elisabeth Borne e que se reunirá duas vezes com o presidente Emmanuel Macron no sábado, está fazendo uma viagem de 27 horas a Marselha para concluir uma reunião de jovens e bispos católicos da região do Mediterrâneo.

© Reuters. Papa Francisco durante evento em Marselha, na França
22/09/2023
REUTERS/Benoit Tessier

Embora Francisco tenha dito frequentemente que os imigrantes deveriam ser divididos entre os 27 países da União Europeia, sua abertura a imigrantes -- incluindo uma vez chamando a exclusão deles de “escandalosa, nojenta e pecaminosa” -- irritou políticos conservadores, sobretudo na França.

“Ele se comporta como um político, ou chefe de uma ONG, e não como um papa”, disse Gilles Pennelle, diretor-geral do partido Assembleia Nacional, de Marine Le Pen, principal desafiante do presidente Emmanuel Macron na eleição presidencial do ano passado. Os comentários foram feitos em uma entrevista por telefone com a Reuters antes de o papa fazer seus comentários elogiando as ONGs que salvam imigrantes no mar.

(Reportagem adicional de Layli Foroudi em Paris e Alvise Armellini em Roma)

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