Por Philip Pullella
A BORDO DO AVIÃO PAPAL (Reuters) - O papa Francisco pareceu abrir caminho para uma possível, ainda que limitada, suavização da proibição da Igreja Católica a métodos contraceptivos por causa do Zika vírus.
Mas o pontífice argentino, que falava aos repórteres na volta para Roma após uma visita ao México, descartou categoricamente o aborto como reação ao Zika, comparando a prática aos assassinatos da máfia italiana.
A crise de saúde vem pondo em questão os ensinamentos da Igreja, especialmente na América Latina, onde o aborto está sendo debatido mais abertamente até mesmo em alguns países conservadores.
Muitos cientistas acreditam que a Zika, uma doença transmitida por mosquitos que está se alastrando pelas Américas, pode ser um fator de risco de microcefalia – uma má-formação craniana em recém-nascidos.
Nas descontraídas coletivas de imprensa pós-viagem que se tornaram uma marca registrada de seu papado, Francisco foi indagado se recorrer à contracepção entraria na categoria de "menor dos males", e como se sente a respeito de algumas autoridades que aconselham gestantes com Zika a fazer abortos.
Ele rejeitou categoricamente que o aborto venha a ser permitido futuramente para mulheres grávidas infectadas com Zika temerosas de dar à luz uma criança com microcefalia.
"O aborto não é um mal menor. É um crime. É matar uma pessoa para salvar outra. É o que a máfia faz", disse o papa, repudiando a prática com fervor. "É um crime. É um mal absoluto".
A Igreja de 1,2 bilhão de fiéis ensina que o aborto é um crime porque a vida começa no momento da concepção. A Igreja prega que a contracepção é errada porque nada deveria impedir a possível transmissão da vida.
Mas Francisco mencionou em sua resposta que um de seus antecessores, o papa Paulo 6º, emitiu uma dispensa excepcional que permitiu a freiras na África utilizarem a pílula anticoncepcional porque corriam risco de serem estupradas em meio a um conflito local.
Ele disse que Paulo, que foi papa entre 1963 e 1978, reagiu a "uma situação difícil na África", dando a entender que existe um precedente papal.
Francisco não contou quando exatamente seu antecessor abriu a exceção, mas acredita-se que o fato ocorreu nos anos 1960 no que então era o Congo Belga. Pouco se sabe sobre o episódio, que não foi divulgado na ocasião.
Francisco disse que, diferentemente do aborto, "evitar a gravidez não é um mal absoluto", e acrescentou que "em certos casos", como o precedente de Paulo 6º, empregar a contracepção pode ser o "mal menor".
Ele não deu maiores detalhes.
Em seus comentários sobre o Zika, o papa também clamou para que as comunidades médica e científica façam todo o possível para descobrir mais sobre a doença.
"Eu também gostaria de exortar os médicos a fazerem tudo para encontrar vacinas contra os mosquitos que carregam esta doença. Temos que trabalhar nisso", disse.