MAPUTO (Reuters) - A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal grupo de oposição de Moçambique, qualificou nesta sexta-feira como fraudulentos os resultados que mostram que o partido governista Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) venceu as eleições nacionais, mas observadores africanos validaram a votação, dizendo ter sido essencialmente livre e aceitável.
"Não aceitamos os resultados... deveriam ser anulados e novas eleições realizadas", declarou o porta-voz da Renamo, Antonio Muchanga, à Reuters na capital Maputo. O pleito de quarta-feira foi marcado por irregularidades, como votos adicionais, afirmou ele.
Os resultados provisórios divulgados pelas autoridades eleitorais mostraram a Frelimo e seu candidato, Filipe Nyusi, de 55 anos, rumo à vitória nas eleições presidencial e legislativa. Foi a quinta votação do tipo desde o encerramento da guerra civil de 1975-1992 entre Frelimo e Renamo, na esteira do fim da colonização portuguesa.
Os números colocam em segundo lugar o candidato da Renamo, Afonso Dhlakama, ex-líder rebelde que combate a Frelimo nos rincões do país e nas urnas há mais de três décadas.
Um terceiro adversário, Daviz Simango, do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), vem em um distante terceiro lugar.
Muchanga disse ter havido muitos casos de aparecimento de cédulas já marcadas com o nome de Nyusi do lado de fora de seções eleitorais, o que tornou a votação inaceitável.
As eleições são vistas como cruciais para garantir a estabilidade do país no momento em que Moçambique se prepara para colher as receitas de grandes reservas de gás e petróleo exploradas por investidores estrangeiros.
As alegações de fraude do partido opositor contrastaram com as avaliações preliminares fornecidas por missões de observadores da União Africana e da Comunidade Sul Africana de Desenvolvimento (SADC, na sigla em inglês), que inclui a potência regional África do Sul.
"Baseada em suas observações, a missão da SADC concluiu que as eleições presidencial, legislativa e das assembleias provinciais da República de Moçambique foram em geral pacíficas, transparentes, livres, justas e críveis", informou o organismo em um comunicado lido em Maputo pela ministra sul-africana das Relações Exteriores, Maite Nkoana-Mashabane.
Em um relatório semelhante de seus observadores, a União Africana também endossou o pleito "essencialmente pacífico e livre de intimidações".
Um porta-voz da comissão eleitoral nacional moçambicana afirmou que a Renamo deveria encaminhar quaisquer queixas para os canais oficiais concebidos para lidar com elas.
Parlamentares do grupo já tinham acusado a polícia na cidade de Beira, segunda maior do país, e em Nampula, no norte, de intimidarem eleitores para influenciar o desfecho da votação a favor da Frelimo, que repudiou as alegações e as classificou como "de má-fé".