O presidente da Colômbia, Gustavo Petro (Colômbia Humana, esquerda), completa 2 anos de governo nesta 4ª feira (7.ago.2024) com crítica de ex-apoiadores, conflitos diplomáticos com outros países e desaprovação ao governo maior do que a aprovação.
Em pesquisa divulgada em 1º de agosto pela Infobae, 58,3% dos entrevistados desaprovam a gestão de Petro e 34,6% dos colombianos, aprovam. Apesar dos números negativos, o desempenho em pesquisas de aprovação já foi pior, com a desaprovação atingindo até 62%.
Parte da rejeição ao presidente colombiano se deve às polêmicas de corrupção envolvendo o seu filho Nicolás Petro, que, em setembro, confessou ao Ministério Público ter aumentado sua fortuna de maneira ilícita, recebendo dinheiro do narcotraficante Samuel Santander (BVMF:SANB11) Lopesierra, conhecido como Homem Marlboro.
Os fundos de Nicolás foram usados para financiar a campanha presidencial de seu pai, que, em junho de 2022, venceu Rodolfo Hernández (Liga Anticorrupção dos Governadores, direita), conhecido como “Trump colombiano”.
POLÍTICAS INTERNAS DE PETRO (BVMF:PETR4)
Gustavo Petro também é reprovado por ex-apoiadores por suas políticas domésticas. Além de criticar a corrupção, eleitores afirmam que o líder abandonou a pauta social durante o seu governo.
A deputada Jennifer Pedraza (Partido da Dignidade e Compromisso, centro-esquerda) afirma que a resolução das questões sociais foram esquecidas pelo governo do presidente.
“Tendo votado no presidente Petro no 2º turno, quero dizer que este governo está sendo muito decepcionante. A agenda social prometida ao povo para fazer mudanças profundas na política colombiana não teve prioridade. Pelo contrário, permaneceu atolado, emaranhado em pactos com a política tradicional”, declarou à CNN.
A política de negociação com grupos armados do país também frustraram parte da população, que, em abril deste ano, foi às ruas para demonstrar sua insatisfação.
O professor de Relações Internacionais da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Miguel Mikelli disse ao Poder360 que o processo de pacificação no país iniciou-se em 2016, e que a ligação de Petro com grupos guerrilheiros no passado vincula o presidente colombiano ao tema.
“Petro deve encarar a resolução definitiva [dos conflitos com guerrilhas] como uma meta vital do seu governo, não é à toa que chamam o plano dele de ‘paz total’. Há uma certa diferenciação no tipo de paz que Petro busca, comparando com outros governos, é uma paz que está associada a ideia de segurança humana, notadamente a uma visão do próprio presidente, mais social, o que se mostra é que ele quer uma inclusão para além dos direitos civis e políticos, mas um processo de paz que possa também contribuir para questões econômicas e sociais dos grupos afetados”, afirmou.
Durante a juventude, o presidente colombiano integrou a guerrilha M-19, desmobilizada em 1990. O grupo de guerrilha foi transformado no partido político Aliança Democrática M-19, com Petro ajudando na fundação.
Além das demandas populares para mudanças nas políticas de segurança, os cidadãos reclamam da situação econômica do país, que cresce menos que o esperado e tem as incertezas fiscais incentivando a redução de investimentos estrangeiros no país.
No 1º trimestre de 2024, o DANE (Departamento Administrativo Nacional de Estatística) registrou aumento do PIB (Produto Interno Bruto) de 0,7%, resultado abaixo do esperado. O período também mostrou que o setor têxtil, doméstico e de produtos metalúrgicos recuou até 13%, gerando preocupações.
Política Externa de Gustavo Petro
Em seu período à frente do país, Petro formou alianças com governantes de outros países alinhados politicamente e criou tensões diplomáticas com países com pautas divergentes.
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por exemplo, tornou-se um dos aliados do líder colombiano na região sul-americana. Miguel Mikelli também destaca a importância política e econômica da Colômbia para o Brasil.
“A Colômbia é a 2ª maior economia da América do Sul, um importante parceiro comercial, e um país amazônico. Há uma convergência de agendas entre os dois países, mas vejo que o fato de existirem 2 governos progressistas poderia ser melhor utilizado para intensificar relações”, disse ao Poder360.
Sob governo de Petro, o contestado presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, esquerda), também tornou-se um tópico constante na política externa colombiana.
Na conturbada eleição do chavista, Bogotá optou por não tomar um posicionamento quanto a reeleição de Maduro. Petro só solicitou ao líder venezuelano para que fosse divulgada as atas eleitorais que comprovassem a sua vitória para “recordar o espírito de [Hugo] Chávez” e reestabelecer a ordem na Venezuela.
“Foi uma postura pragmática de Petro, a Venezuela é um player incontornável na política externa da Colômbia, dado o entrelaçamento humano (grande fluxo de deslocados venezuelanos) e geográfico (maior fronteira terrestre da Colômbia). Vejo que Petro, apesar de não concordar com o regime venezuelano, tentou se oferecer como player mais moderado, construtivo”, afirmou Mikeli.
Outro tema presente na política externa colombiana é a relação Colômbia-Argentina. Antes do presidente Javier Milei (La Libertad Avanza, direita) ter assumido o cargo, em dezembro de 2023, o presidente colombiano afirmou que o resultado eleitoral argentino foi “triste para a América Latina”.
Nos meses seguintes, ambos trocaram críticas, com Milei chamando Petro de “comunista assassino”. A fala levou a Colômbia a expulsar o corpo diplomático argentino de Bogotá, com as relações diplomáticas sendo retomadas em abril.
Um roteiro semelhante foi seguido nas relações Colômbia-Israel. Em retaliação aos ataques israelenses em Gaza, o líder colombiano chamou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu (Likud, direita) de “genocida” e rompeu a diplomacia entre os países.
Na ocasião, a cooperação militar entre Colômbia e Israel também foi interrompida, sendo anunciada a suspensão da compra de armamentos israelenses, muito utilizados pelo Exército da Colômbia.
Saldo dos 2 anos de governo de Gustavo Petro
Assim, completados os 2 anos de governo de Petro, o professor Mikelli diz ser positivo o desempenho da política externa do colombiano e ressalta o contexto que o favoreceu, com países vizinhos sendo liderados por governos de aspirações políticas semelhantes, como o Brasil, México e Chile.
“Isso [desempenho positivo na política externa] se deve, claro, ao próprio desempenho do presidente em si, e de quem ele escolheu para comandar suas relações externas, mas também tem relação com um entorno mais favorável, sobretudo com os governos de centro-esquerda no Brasil, no Chile e no México, o que favorece uma articulação mais coordenada em diversas agendas regionais, como uma agenda mais progressista de meio ambiente, uma intensificação na cooperação em segurança, notadamente na Amazônia, com o Brasil, bem como um maior apoio ao processo de paz”, declarou Mikelli.
Esta reportagem foi escrita pelo estagiário de jornalismo José Luis Costa sob a supervisão do editor Matheus Collaço.