Por Ben Hirschler
STRATFORD-UPON-AVON, Inglaterra (Reuters) - "A Morte do Caixeiro Viajante", texto do dramaturgo Arthur Miller que representa a essência do espírito norte-americano, foi parar na cidade natal de Shakespeare e rebeceu a honraria máxima de ser encenada no aniversário do bardo este ano.
O retrato de um típico sonho americano fracassado é louvado como "a maior peça norte-americana do século 20" pelo diretor Gregory Doran, cuja nova produção em Stratford-upon-Avon tem toques shakespeareanos sutis.
Este ano marca o cententário do nascimento de Miller e, assim como em Shakespeare, sua escrita é notável por uma abordagem da psicologia e dos relacionamentos humanos que sobrevive à passagem do tempo.
A montagem de Doran, que estreou na quarta-feira, brinca com estes paralelos ao escalar Antony Sher e Alex Hassell nos papéis de Willy Loman e seu filho, Biff, na esteira de suas atuações como Falstaff e o príncipe Hal em "Henrique 4º, Partes 1 e 2".
Sher vive o vendedor idoso Willy, o protagonista da peça de Miller, que sofre um colapso semelhante ao do rei Lear quando fala de si mesmo com um olhar perdido e ruma para a auto-destruição.
Não é coincidência que Sher, renomado ator shakespeareano, irá interpretar Lear no mesmo palco no ano que vem, em uma encenação que Doran vê como uma peça que dialoga com o clássico de Miller.
À medida que os sonhos e as decepções de Willy abalam seu espírito, sua posição como peça insignificante da engrenagem da economia norte-americana é explicitada por uma série de conjuntos de prédios que vão esmagando sua pequena casa no bairro nova-iorquino do Brooklyn.
Por um lado, a história do vendedor ambulante na primeira metade do século passado parece distante do mundo digital de hoje, mas a evidência de como décadas de trabalho duro não bastam para dar a Willy a melhoria de vida tão esperada ainda ecoa. Interpretada com vigor por Harriet Walter, Linda, sua esposa abatida, insiste que "é preciso prestar atenção a este homem".
Walter e Sher já tinham trabalhado antes em 1999, como Macbeth e Lady Macbeth – outro casal condenado pelo destino.
"A Morte do Caixeiro Viajante", que estreou na Broadway em 1949, será a primeira "peça de aniversário" não-shakespeareana a ser apresentada no palco principal de Stratford quando as cortinas se erguerem no dia 23 de abril, dia em que a Royal Shakespeare Company comemora o nascimento de seu patrono. OLBRENT Reuters Brazil Online Report Entertainment News 20150402T142831+0000