MOSCOU (Reuters) - Uma peça montada pelo diretor russo Kirill Serebrennikov, que está em prisão domiciliar, teve casa cheia em sua noite de estreia em um teatro de Moscou, e espectadores e atores expressaram solidariedade com o encenador, que disseram estar sendo punido por suas opiniões liberais.
As autoridades da Rússia prenderam Serebrennikov, diretor de cinema e teatro premiado e crítico das políticas do Kremlin, em agosto, acusando-o de desvio de fundos estatais. Ele está em prisão domiciliar até 19 de outubro e aguarda um julgamento.
Serebrennikov começava a trabalhar na produção de "Pequenas Tragédias", de Alexander Pushkin, em seu Centro Gogol, no coração de Moscou, antes de ser preso.
Depois que o elenco voltou ao palco para ser ovacionado no encerramento da estreia do final de semana, a plateia explodiu em aplausos quando uma projeção de vídeo mostrou a imagem do diretor em uma tela pendurada sobre o palco.
"É uma vergonha que nosso Estado esteja tentando prender pessoas como ele, que estão tentando pensar e expressar suas opiniões", disse Gennady Volkov, um dos espectadores, à Reuters.
Em algumas de suas obras, Serebrennikov debochou em especial do papel crescente do Estado e da Igreja Ortodoxa Russa na sociedade.
Embora ele tenha um histórico de crítica às autoridades, neste mês o presidente russo, Vladimir Putin, negou haver uma censura ou pressão política por trás de sua detenção.
"Tudo isto é pura política. Agentes da KGB sempre fizeram isso com pessoas que desafiam o público, e o estão fazendo de novo agora", afirmou a jornalista Yevgenia Albats, crítica explícita de Putin.
"E (Kirill) Serebrennikov é uma vítima dos processos que estão acontecendo no país".
Investigadores russos dizem que Serebrennikov desviou ao menos o equivalente a 1,18 milhão de dólares de fundos estatais destinados a um projeto artístico. Ele nega as acusações.
(Por Valery Stepchenkov e Gennady Novik; Reportagem adicional de Maria Vasilyeva)