Por Humeyra Pamuk e Nick Tattersall
ISTAMBUL (Reuters) - A polícia da Turquia usou gás lacrimogêneo e canhões de água nesta sexta-feira contra centenas de manifestantes reunidos por ocasião do Dia do Trabalho e munidos de pedras, depois que eles desafiaram uma proibição e tentaram marchar na famosa Praça Taksim, em Istambul.
A maior cidade da Europa foi submetida a um verdadeiro confinamento. Milhares de policiais montaram barricadas e fecharam ruas para impedir as manifestações em Taksim, ponto tradicional de protestos de grupos esquerdistas que testemunhou semanas de distúrbios em 2013.
A tropa de choque disparou jatos de água e expulsou os manifestantes pelas ruas laterais no bairro próximo de Besiktas, onde também lançou gás lacrimogêneo, de acordo com um repórter da Reuters no local.
Várias pessoas foram detidas depois que os manifestantes atiraram pedras e garrafas contra a polícia e dispararam fogos de artifício. Em nome da segurança, a maior parte do transporte público de Istambul foi interrompida, e helicópteros da polícia sobrevoavam a cidade.
Dezenas de milhares também se reuniram para protestar na capital Ancara, onde o clima era mais festivo e se viam pessoas dançando e cantando.
Os críticos dizem que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o governo se tornaram mais autoritários com a aproximação das eleições de junho.
"As pessoas querem expressar seus problemas, mas o governo não quer que esses problemas sejam ouvidos antes das eleições", afirmou o político opositor Mahmut Tanal, segurando uma edição de bolso da constituição turca, à Reuters, em Istambul.
Normalmente lotada, a avenida comercial Istiklal estava deserta, com lojas fechadas e barricadas de metal bloqueando ruas laterais.
A praça, que é cercada de cafeterias e hotéis e costuma receber muito movimento, ficou cheia de ônibus da polícia, ambulâncias e caminhões de transmissão via satélite. Um par de turistas saído de um hotel encontrou a Taksin isolada e contornou com nervosismo as barreiras policiais.
O governo declarou que a praça só seria aberta para aqueles que viessem pacificamente, e não para "manifestações ilegais".
Partidos de oposição e sindicatos pediram ao governo que suspendesse a interdição. Erdogan, que já chegou a classificar os manifestantes de "ralé" e terroristas, almeja uma grande vitória para seu partido AK no pleito parlamentar de junho, o que lhe permitiria alterar a constituição e lhe daria amplos poderes presidenciais.