SANTIAGO (Reuters) - Policiais e manifestantes entraram em confronto em Santiago, nesta segunda-feira, em meio ao lockdown imposto à toda cidade para conter a propagação do coronavírus e enquanto autoridades locais avisaram que uma das regiões mais pobres da capital chilena enfrenta escassez de alimentos.
Um grupo de manifestantes atirou pedras, gritou palavras de ordem e queimou pilhas de madeira ao longo de uma rua na empobrecida vizinhança na periferia ao sul de Santiago. Imagens em redes sociais e em canais de televisão mostraram a polícia usando gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar a multidão que crescia.
O município disse em nota que famílias estavam passando fome nas regiões mais pobres de El Bosque, um bairro onde moram muitos trabalhadores informais e desempregados. O distrito urbano está em quarentena desde meados de abril, segundo disseram as autoridades municipais em nota.
"As últimas semanas tiveram uma grande demanda de moradores da região por comida", disse o prefeito de El Bosque, Sadi Melo, que é do partido Socialista chileno, de oposição ao atual governo federal. "Estamos em uma situação muito complexa de fome e falta de trabalho".
Santiago é uma das cidades mais prósperas da América Latina. Mas uma divisão nítida entre pobres e ricos e a crescente percepção da desigualdade levou a protestos de massa no final de 2019. Muitas das pautas reivindicadas pelos manifestantes no ano passado, desde o aumento de aposentadorias a reajustes salariais, continuam sem resolução.
Em nota, o gabinete de Melo disse que El Bosque havia distribuído mais de 2 mil pacotes de ajuda às famílias mais necessitadas, mas alertou que o governo central "não continue a sobrecarregar os municípios com uma responsabilidade econômica com a qual não conseguimos lidar".
(Reportagem de Natalia Ramos e Dave Sherwood)