NAIRÓBI (Reuters) - A polícia etíope libertou nesta terça-feira o cinegrafista da Reuters Kumerra Gemechu, após mantê-lo preso sem acusação por 12 dias.
A polícia disse ao advogado do cinegrafista, Melkamu Ogo, que suas linhas de investigação incluíam acusações de divulgação de informações falsas, comunicação com grupos que lutam contra o governo e perturbação da paz e segurança do pública. No entanto, Ogo disse que não viu nenhuma evidência.
"Estamos muito satisfeitos que Kumerra tenha sido libertado e esteja junto com sua família. Sua libertação hoje confirma que ele não fez nada de errado", disse o editor-chefe da Reuters, Stephen J. Adler, em um comunicado.
"Kumerra é um jornalista que tem demonstrado consistentemente seu profissionalismo e compromisso com a precisão, como parte de uma equipe da Reuters que reporta da Etiópia de maneira justa, independente e imparcial. Jornalistas como Kumerra precisam poder relatar as notícias no interesse público, sem medo de assédio ou dano, onde quer que estejam."
A polícia etíope e a promotoria não responderam às perguntas da Reuters sobre os motivos da prisão de Kumerra e posterior libertação.
Kumerra, de 38 anos, trabalha para a Reuters há uma década.
Sua família disse que estava preparando uma refeição especial e ansiosa por recebê-lo em casa no Natal, que muitos cristãos etíopes celebrarão na quinta-feira.
"Estamos muito aliviados que Kumerra foi libertado e gostaríamos de agradecer a todos que nos apoiaram durante este momento difícil", disse a família em um comunicado.
"Kumerra é um jornalista dedicado e profissional que não fez nada de errado. Ele simplesmente deseja fazer uma reportagem sobre a Etiópia de maneira independente. Sua família sentiu sua falta todos os dias em que ficou detido e estamos muito felizes que Kumerra estará em casa no Natal."
O primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2019, supervisionou profundas reformas desde que assumiu o cargo em 2018, suspendendo a proibição de mais de 250 meios de comunicação e libertando dezenas de jornalistas.
No entanto, grupos de direitos humanos afirmam que a liberdade de imprensa diminuiu à medida que o governo enfrentava surtos de violência, incluindo combates entre militares e líderes rebeldes na região norte de Tigré.
Grupos de acompanhamento da mídia relataram as prisões de pelo menos 12 outros jornalistas na Etiópia no ano passado, sete deles em novembro, quando o conflito no Tigré estourou.
Apenas um jornalista foi acusado por postagens nas redes sociais sobre Covid-19 que foram denunciadas pelo Ministério da Saúde como falsas, de acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas e os Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Nova York.
Oito já foram libertados e os demais permanecem sob custódia, disseram os dois grupos.
A polícia e funcionários do governo não retornaram ligações e mensagens pedindo comentários. O governo disse anteriormente que o país enfrenta ameaças à segurança e está comprometido em manter a lei e a ordem.
(Reportagem da Redação de Nairóbi)