YANGON (Reuters) - Um policial que afirma ter feito parte de uma equipe que deteve dois repórteres da Reuters em Mianmar em dezembro disse a um tribunal nesta quarta-feira que não está familiarizado com os procedimentos para se registrar prisões.
O segundo-tenente Myo Ko foi a testemunha de acusação mais recente de um julgamento que decidirá se os repórteres Wa Lone, de 31 anos, e Kyaw Soe Oo, de 27, devem ser acusados sob a Lei de Segredos Oficiais dos tempos coloniais de Mianmar.
Depois da audiência, o advogado de defesa, Khin Maung Zaw, disse aos jornalistas que durante a inquirição Myo Ko Ko confessou não estar familiarizado com as regras processuais do manual da polícia de Mianmar. "Então ele não pode ser uma testemunha confiável para a acusação", disse Khin Maung Zaw.
Wa Lone e Kyaw Soe Oo foram presos em 12 de dezembro por supostamente terem obtido documentos confidenciais depois de serem convidados para se encontrar com policiais para um jantar em Yangon.
Os dois contaram a familiares que foram presos quase imediatamente depois de receberem alguns papéis de dois policiais que nunca haviam encontrado antes em um restaurante.
Indagado sobre o local em que as prisões ocorreram, Myo Ko Ko respondeu que foi em uma rua repleta de fábricas -- o que contradiz um mapa apresentado anteriormente pela polícia, e que foi incluído nos documentos da corte, que mostrou lojas e casas de chá, mas não fábricas.
Myo Ko Ko disse ao tribunal que fez parte da equipe que efetuou as prisões, mas que não viu os documentos que, segundo a polícia, os dois repórteres tinham em mãos.
Os dois repórteres trabalhavam em uma investigação da Reuters sobre a morte de 10 muçulmanos rohingyas que foram enterrados em uma cova coletiva no Estado de Rakhine, no norte do país, após serem assassinados por moradores budistas de Rakhine e soldados.
(Redação de Mianmar)