Por Scott Malone e Warren Strobel
BALTIMORE (Reuters) - Milhares de policiais da tropa de choque e forças da Guarda Nacional patrulharam Baltimore, nos Estados Unidos, para impor um toque de recolher na noite de terça-feira, dispersando os manifestantes com spray de pimenta, um dia depois que a cidade foi abalada pelo pior tumulto no país em anos.
Com helicópteros sobrevoando a área do conflito e veículos blindados no local, a maioria das pessoas respeitou o toque de recolher de 22h (23h em Brasília) até as 5h, se estendendo por toda a semana.
Mas algumas centenas de pessoas desafiaram as autoridades, reunindo-se em um cruzamento que foi palco de saques na segunda-feira nessa cidade de grande população negra. A polícia dispersou o grupo usando balas de borracha e spray de pimenta. Sete pessoas foram presas. Outras três foram detidas em outras partes da cidade.
A violência irrompeu em Baltimore na segunda-feira, horas após o funeral de um homem negro que morreu em 19 de abril depois de ter sido ferido enquanto estava sob custódia policial, uma semana antes.
A morte de Freddie Gray, de 25 anos, renovou um debate nacional sobre a aplicação da lei e raça, desencadeado depois que a polícia matou homens negros desarmados no ano passado em Ferguson, em Nova York e em outros lugares.
Pouco antes do toque de recolher, a prefeita Stephanie Rawlings-Blake foi para a interseção onde os manifestantes se reuniram e pediu que eles fossem para casa.
"Vamos levar nossos filhos para casa e respeitar o toque de recolher. Quero agradecê-los pela compreensão de que nós queremos trazer a paz", disse Stephanie através de um megafone.
Na segunda-feira lojas foram saqueadas, 19 edifícios foram incendiados e 20 policiais ficaram feridos. A polícia prendeu mais de 250 pessoas na cidade, situada a apenas 64 quilômetros da capital, Washington.
Mais de 2.000 soldados da Guarda Nacional e 1.000 policiais de todo o Estado de Maryland, bem como de Nova Jersey e do Distrito de Colúmbia foram enviadas para restaurar a ordem.
Quase um quarto das 620 mil pessoas em Baltimore vive abaixo da linha da pobreza e as deterioradas zonas da cidade afetadas pela criminalidade inspiraram o drama policial "The Wire".
Na terça-feira, Baltimore viu cenas de reconciliação, de limpeza e até mesmo celebração, bem como de protestos, que prosseguiam.
Grupos de manifestantes marcharam e cantaram "Black Lives Matter" (A vida dos Negros Importa), um dos hinos de um movimento nacional contra o uso de força letal pela polícia, que recorre de modo desproporcional à força contra as minorias.
Perto de uma farmácia saqueada e queimada, centenas de pessoas agitavam bandeiras e dançavam na rua enquanto observavam 50 bailarinos atuando ao som de uma banda unificada que se apresentou à noite, reunindo grupos de música de toda a cidade.
"É bom ver todo mundo junto. As pessoas apenas se divertindo", disse Roxanne Gaither, 45. "Isto é o que Freddie Gray iria querer ver. A noite passada foi terrível. Se é preciso um toque de recolher para evitar isso, que seja."
A crise de segurança mudou a rotina da cidade. As escolas foram fechadas na terça-feira, mas iriam reabrir nesta quarta. Em uma decisão incomum, um importante jogo da liga nacional de beisebol entre o Baltimore Orioles e o Chicago White Sox será realizado nesta quarta sem a presença de público.
Gray foi preso em 12 de abril quando fugia da polícia e levado para a delegacia de polícia em uma van, na qual sofreu uma lesão na coluna vertebral.
Seis oficiais foram suspensos, e o Departamento de Justiça dos EUA está investigando possíveis violações de direitos civis.
"Não há nenhuma desculpa para o tipo de violência que vimos ontem", disse o presidente Barack Obama na terça-feira. "É contraproducente."
(Reportagem adicional de Jim Bourg e Ian Simpson, em Baltimore; Laila Kearney, em Nova York; Dan Whitcomb, em Los Angeles; e Suzannah Gonzales e Tracy Rucinski, em Chicago)