Por Venus Wu
HONG KONG (Reuters) - Um político de Hong Kong disse que foi pressionado para desistir de uma eleição municipal para abrir caminho a um candidato favorecido pelo governo da China –o que, se confirmado, pode oferecer um indício raro de interferência de Pequim na política da cidade.
Hong Kong, que desfruta de uma autonomia especial na China, realizou uma eleição para a legislatura municipal no domingo, seu primeiro grande teste de opinião pública desde que as manifestações pró-democracia de 2014 desencadearam clamores por independência, sobretudo entre eleitores jovens.
Ken Chow, do pró-empresariado Partido Liberal, disse à Reuters na quarta-feira que desistiu de concorrer depois que três homens que ele acredita terem sido enviados pelo governo chinês o ameaçaram enquanto ele visitava a cidade chinesa de Shenzhen em agosto.
"Eles disseram que eu deveria parar de fazer campanha. Também disseram que eu devia deixar Hong Kong o mais cedo possível... e só tive permissão de voltar depois dos resultados", disse Chow.
"Eles disseram 'se você continuar a ser teimoso, iremos agir, e seus apoiadores irão pagar um preço alto'."
A Reuters não conseguiu corroborar o relato de Chow de forma independente. A principal instância de representação da China em Hong Kong, o escritório de Contato, não respondeu a perguntas enviadas por fax. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês disse não ter entendimento real do assunto.
Chow, que concorria como candidato pró-establishment, disse que outras pessoas, que ele se recusou a identificar, lhe ofereceram dinheiro para se retirar da eleição e abrir espaço para um candidato pró-Pequim.
"Eles disseram 'você não tem chance de vencer. Se você participar realmente da eleição, só irá arruinar o grande plano'", afirmou Chow.
A ex-colônia britânica foi devolvida à China em 1997 conforme um acordo de "um país, dois sistemas" que prometeu manter suas liberdades, mas Pequim tem o controle final, e alguns moradores de Hong Kong temem que a China esteja interferindo cada vez mais para conter a dissidência.
No final de agosto, Chow anunciou que estava desistindo da corrida, mas não revelou o motivo. O candidato pró-Pequim com quem ele disputaria votos conquistou uma vaga no domingo.
Ainda em agosto, o partido de Chow disse à mídia que a Comissão Independente Contra a Corrupção (Icac, na sigla em inglês) irá investigar se ele foi ameaçado.
O secretário de Justiça de Hong Kong, Rimsky Yuen, disse aos repórteres nesta quinta-feira que não poderia comentar casos individuais, mas que confia que a Icac irá acompanhá-lo, embora seja difícil investigar acontecimentos ocorridos fora de Hong Kong.