Por Jan Strupczewski e Renee Maltezou
BRUXELAS/ATENAS (Reuters) - Os ministros das Finanças da zona do euro esboçaram nesta sexta-feira as linhas gerais de um acordo que pode ser a base para a extensão do pacote de resgate financeiro da Grécia, disseram autoridades de ambos os lados.
Contudo, eles destacaram que não há um acordo formal sobre um texto comum no Eurogrupo, que reúne os 19 ministros da zona do euro.
A Alemanha, maior credor da Grécia, havia exigido "melhoras significativas" nos comprometimentos com reformas do novo governo esquerdista em Atenas antes de aceitar a extensão do financiamento da zona do euro.
"Há um acordo inicial sobre um esboço de texto conjunto entre os parceiros institucionais, que agora está sendo apresentado a todos os ministros", disse uma autoridade do governo grego após negociações preparatórias envolvendo ministros da Grécia e da Alemanha, além da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Os detalhes podem ser definidos mais tarde. Mas vamos ver".
Com o programa de resgate de 240 bilhões de euros da UE e do FMI em vias de vencer em pouco mais de uma semana, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, expressou confiança em um acordo, apesar das objeções à solicitação feita em carta ao presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.
"Estou certo de que a carta grega para uma extensão de seis meses do acordo de empréstimo com as condições que o acompanham será aceita", disse Tsipras em comunicado à Reuters horas antes do encontro crucial em Bruxelas.
O rascunho de acordo, contudo, propõe prolongar o programa grego em quatro meses, em vez dos seis previamente sugeridos, disseram autoridades da Grécia e de outros países-membros da zona do euro.
Uma autoridade da zona do euro também disse que o rascunho que está agora sendo discutido entre ministros das Finanças exige que Atenas apresente até segunda-feira uma carta ao Eurogrupo listando todas as medidas que planeja adotar durante o resto do período do resgate, para garantir que respeite as condições.
Uma reportagem da revista alemã Der Spiegel noticiando que o Banco Central Europeu está fazendo planos de contingenciamento para uma possível saída da Grécia da zona do euro, caso não seja possível um acordo, ressaltou a dimensão dos desafios. O BCE se negou a comentar a reportagem.
A chanceler alemã, Angela Merkel, falando em Paris, disse que todos os parceiros da UE querem manter a Grécia no euro, mas acrescentou: "Há necessidade para melhoras significativas na substância que está sendo discutido para que a gente possa votar no parlamento alemão, por exemplo, na próxima semana".
Berlim e outras economias fortes da zona do euro querem garantias de que a Grécia vai atender às rígidas condições impostas por seu resgate internacional, mas Atenas está determinada a reduzir a austeridade para reanimar a economia.
Tsipras teve uma longa conversa por telefone com a chanceler alemã na quinta-feira, e tem estado em contato frequente com líderes franceses e italianos, em busca por uma solução que permita a seu governo radical manter a cabeça erguida.
"A Grécia tem feito todo o possível para que possamos chegar a uma solução em benefício mútuo, baseada no princípio de duplo respeito: respeito tanto ao princípio das regras da UE como ao resultado eleitoral de seus países membros", disse ele.
Um dia depois de ter rejeitado fortemente a abordagem grega, a Alemanha soou mais conciliatória, dizendo que a mais recente proposta grega era "um bom sinal", embora não tenha avançado o bastante em seu formato atual.
Merkel estava em Paris para uma reunião com o presidente francês, François Hollande, que por sua vez prometeu a Tsipras trabalhar junto à chanceler alemã em busca de uma solução, de acordo com uma autoridade grega.
A Comissão Europeia disse estar confiante na possibilidade de um acordo nesta sexta-feira, caso todas partes se mostrem razoáveis, "mas ainda não estamos lá". O ministro das Finanças holandês disse que iria pedir aos gregos que deem garantias mais claras sobre o cumprimento de todos os termos de seu acordo de resgate.
Representantes da zona do euro disseram estarem com um humor cautelosamente mais otimista, mas que uma crônica falta de confiança nos novos líderes gregos, incluindo no ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, um expressivo economista e blogueiro marxista, seria difícil de ser superada.
Acrescentando pressão para que um acordo seja alcançado, poupadores gregos retiraram seu dinheiro dos bancos em um ritmo acelerado, apesar das garantias do governo de que não planeja implementar controles de capital para conter os saques.
(Reportagem adicional de George Georgiopoulos, Angeliki Koutantou e Deepa Babington em Atenas, Noah Barkin em Berlim, John O'Donnell e Paul Carrel em Frankfurt)