Por Boldizsar Gyori e Krisztina Than
BUDAPESTE (Reuters) - A Hungria não apoiará a Ucrânia em nenhuma questão de assuntos internacionais até que os direitos linguísticos dos húngaros étnicos sejam restaurados, disse o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, ao Parlamento na segunda-feira.
Orbán também disse que a Hungria não tem pressa em ratificar a adesão da Suécia à Otan, sinalizando mais um atraso em um processo que está parado no Parlamento desde o ano passado. A proposta de adesão da Suécia à Otan está suspensa, aguardando a aprovação da Hungria e da Turquia.
A Hungria entrou em atrito com a Ucrânia sobre o que diz ser restrições aos direitos de cerca de 150.000 húngaros étnicos de usar sua língua nativa, especialmente na educação, depois que Kiev aprovou uma lei em 2017 restringindo o uso de idiomas minoritários nas escolas.
"Eles querem transformar (as escolas húngaras) em escolas ucranianas e, se isso não funcionar, querem fechá-las", disse o premiê nacionalista Orbán em seu discurso, acrescentando que seu governo lutaria pelos direitos dos húngaros étnicos no oeste da Ucrânia.
"Não apoiaremos a Ucrânia em nenhuma questão no cenário internacional até que ela restabeleça as leis que garantem os direitos dos húngaros."
As declarações de Orbán foram dadas depois que a chefe da União Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou, no início deste mês, uma visão de uma UE ampliada que incluiria a Ucrânia. Os países da UE devem decidir em dezembro se permitem que a Ucrânia inicie as negociações de adesão -- uma medida que exigiria o apoio unânime de todos os 27 países do bloco.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse, após sua eleição em 2019, que acredita ser necessário preparar um projeto de lei para proteger os direitos das minorias, especialmente nas esferas religiosa e linguística.
Obter o sinal verde para as negociações de adesão à UE seria amplamente visto como uma vitória para a Ucrânia em seu conflito com a Rússia, uma vez que ela busca não apenas repelir as forças russas, mas também se libertar da influência geopolítica russa e fortalecer os laços com o Ocidente.
A Hungria é membro da Otan e se opõe à invasão da Ucrânia pela Rússia, mas Orbán, no poder desde 2010, cultivou relações estreitas com a Rússia e evitou criticar o presidente Vladimir Putin. A Hungria se recusou a enviar armas para a Ucrânia.
Orbán disse que a Hungria não estava com pressa para aprovar a proposta da Suécia de entrar para a Otan e que não havia ameaça à segurança da Suécia. O governo húngaro citou o que chamou de alegações indevidas de políticos suecos de que a Hungria havia corroído os direitos democráticos.
"Eu me pergunto se há algo urgente que nos forçaria a ratificar a candidatura da Suécia à Otan. Não consigo ver nenhuma circunstância desse tipo", disse Orbán.
(Reportagem de Boldizsar Gyori e Krisztina Than em Budapeste e Pavel Polityuk em Kiev)