ANCARA (Reuters) - O governista Partido Justiça e Desenvolvimento da Turquia (AK, na sigla em turco) irá esgotar todas as opções para formar um novo governo antes de considerar antecipar as eleições, disse o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, nesta quarta-feira, e pareceu alertar o presidente, Recep Tayyip Erdogan, a não interferir.
Em entrevista à rede estatal TRT, Davutoglu afirmou que Erdogan não se envolverá nas negociações para a formação de uma coalizão depois que o AK, ao qual pertence, perdeu sua maioria parlamentar na eleição do fim de semana, e que ele só intervirá no caso de uma crise.
A votação de domingo pôs fim a mais de uma década de governo de partido único no país membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e candidato a se filiar à União Europeia, prejudicando as ambições de Erdogan de estabelecer uma Presidência de grandes poderes, ao estilo norte-americano, e mergulhando a Turquia em uma incerteza política que não era vista desde os anos 1990.
"O presidente Erdogan não faz parte das negociações da coalizão, mas irá comparecer para ajudar a superar impasses", afirmou Davutoglu na conversa de uma hora.
"Se todos cumprirem suas tarefas e responsabilidades dentro dos limites constitucionais, uma cultura de reconciliação irá emergir", declarou em um aparente alerta a Erdogan.
Partidos de oposição vêm acusando Erdogan, que fundou o AK mais de uma década atrás e continua sendo sua figura predominante, de continuar influenciando seus assuntos apesar de um veto constitucional que o impede de se envolver na política partidária como chefe de Estado.
Contrastando com sua quase onipresença nos meios de comunicação, Erdogan ainda não fez nenhum comentário público desde a eleição, a não ser por uma breve declaração de seu gabinete pedindo um período de reflexão para todos os partidos.
(Por Ece Toksabay e Asli Kandemir)