Por Margarita Antidze
EREVAN (Reuters) - O presidente da Armênia, Serzh Sarksyan, disse nesta quarta-feira que seu país está pronto para normalizar as relações com a Turquia, dois meses após ele ter retirado projetos de acordos de paz em votação no Parlamento, alegando falta de vontade política dos turcos em encerrar as hostilidades, que já duram 100 anos.
Em declarações dadas dois dias antes de uma cerimônia, na sexta-feira, para marcar o centenário do assassinato em massa de armênios por turcos otomanos, acontecimento histórico que encontra-se no centro da animosidade entre os dois países, Sarksyan disse que não deveria haver pré-condição para o reinício do processo de paz. O presidente armênio afirmou que não vai mais insistir para que os turcos assumam ter cometido genocídio.
"Devemos, no fim das contas, estabelecer relações normais com a Turquia, e o estabelecimento de tais relações normais deve ser sem nenhuma pré-condição", disse Sarksyan a um grupo de jornalistas estrangeiros.
A Armênia, país de 3,2 milhões de habitantes, assinou uma série de acordos com a Turquia em outubro de 2009, visando o estabelecimento de relações diplomáticas e a abertura das fronteiras terrestres, mas os entendimentos travaram nos parlamentos de ambos os países, com um lado acusando o outro de tentar reescrever os termos e inserir novas condições.
Os acordos podem trazer imensos ganhos econômicos para a Armênia, que não tem litoral; aumentar as chances da Turquia em ingressar na União Europeia e impulsionar a influência turca na estratégica região do sul do Cáucaso.
Os muçulmanos turcos reconhecem que muitos armênios cristãos morreram em conflitos sectários durante a Primeira Guerra Mundial, mas negam a afirmação da Armênia de que até 1,5 milhão de armênios tenham sido mortos durante o Império Otomano e que teria havido um genocídio.
Antes do centenário, o papa Francisco e o Parlamento Europeu irritaram Ancara ao se referir às mortes como genocídio. Nesta quarta-feira, a Turquia classificou uma declaração similar do Parlamento austríaco como ultrajante, e disse que não deveria ser preciso "dar aulas de história aos outros".
Sarkysan disse que o processo de reconciliação pode ser retomado "quando a liderança turca estiver pronta para estabelecer relações normais, sem qualquer pré-condição."
Ele alegou ter retirado os acordos em votação no Parlamento armênio para enviar uma "mensagem política" à Turquia.
"A ratificação dos protocolos é algo que nós queremos, mas é preciso dois para dançar tango, e não depende somente de nós", disse o presidente armênio.
Delegações de dezenas de países devem participar das homenagens na sexta-feira, incluindo os presidentes de França, Rússia, Sérvia e Chipre.