O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, de 63 anos, morreu no domingo (19.mai.2024) depois da queda de um helicóptero que transportava o líder. A morte foi confirmada pela agência de notícias estatal iraniana Isna (Iranian Students News Agency).
A aeronave passava pela província iraniana do Azerbaijão Oriental, perto da cidade de Jolfa, fronteira entre o Irã e Azerbaijão, quando precisou fazer um pouso forçado por conta de más condições climáticas, como chuva e ventos fortes.
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“Nenhum vestígio dos sinais vitais dos passageiros foi observado pelos helicópteros”, disse a Isna ao publicar uma foto aérea do local do acidente. Nas redes sociais, as primeiras imagens do acidente mostram uma pilha de metal retorcido.
Além do presidente iraniano, o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amirabdollahian, o governador da província do leste do Azarbaijão, Malek Rahmati, o líder de oração de 6ª feira de Tabriz, Hojjatoleslam Al Hashem, e outras autoridades também estavam no helicóptero.
Embora não havia informações oficiais sobre o que causou a queda do helicóptero, agências de notícias do Irã publicaram imagens das buscas que mostram ventos fortes, neve e névoa nos arredores do local da queda.
A morte do líder iraniano deve reverberar na geopolítica do Oriente Médio, já que o país participou indiretamente do ataque do Hamas ao território israelense em 7 de outubro de 2023 e vinha escalando a tensão contra Israel desde janeiro deste ano, o que resultou num ataque a mísseis em abril.
Raisi era cotado para ser o próximo líder supremo do Irã, depois do aiatolá Ali Khamenei, 85 anos. A morte deixa tudo incerto, ainda mais em um contexto de fragilidade econômica.
O vice-presidente Mohammad Mokhber é o próximo da linha de sucessão; ele deve organizar uma eleição dentro de 50 dias.
Quem era Raisi
Sayyid Ebrahim Raisol-Sadati, conhecido como Ebrahim Raisi, nasceu em 14 de dezembro de 1960 na cidade iraniana de Mashhad. Vindo de uma família clerical, recebeu uma educação religiosa.
Em 1975, estudou teologia e jurisprudência islâmica em Qom, um dos centros de estudos religiosos mais importantes do Irã. Iniciou sua carreira jurídica aos 20 anos. Em 1981, foi nomeado procurador das províncias de Karaj e de Hamadan.
Ao longo das décadas de 1980 e 1990, Raisi ocupou várias posições no sistema judiciário iraniano. Em 1985, foi nomeado procurador-adjunto de Teerã e, posteriormente, procurador da cidade.
“Comitê da morte”
Em 1988, o iraniano fez parte do apelidado “comitê da morte”, que supervisionou execuções em massa de prisioneiros políticos e dissidentes. O número exato de mortes é desconhecido. A estimativa é de 2.800 a 3.800.
Em 1994, Raisi foi nomeado chefe da Organização Geral de Inspeção do Irã. Ocupou a função até 2004. Ele também atuou como vice-chefe do Judiciário de 2004 a 2014.
Em 2019, foi nomeado chefe da Justiça do Irã. No cargo, promoveu uma campanha contra a corrupção e iniciou processos contra funcionários do governo de Hassan Rouhani e empresários.
O líder iraniano enfrentou acusações relacionadas a sua atuação no Judiciário do Irã. Organizações internacionais, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch acusaram o iraniano de violar os direitos humanos e de crimes contra a humanidade.
Política
Ebrahim Raisi era um ultraconservador e defensor do sistema velayat-e faqih, que estabelece a supremacia do líder supremo do Irã. Na economia, adotava uma política intervencionista, visando a justiça social e a redução da desigualdade. Nas relações externas, defendia uma política de resistência ao Ocidente.
Ele era um dos principais nomes para suceder o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, de 85 anos. Raisi se candidatou à Presidência do Irã pela 1ª vez em 2017. Na ocasião, foi derrotado por Hassan Rouhani.
O iraniano concorreu novamente ao cargo em 2021 e venceu o pleito com uma campanha de combate à corrupção, promoção da justiça social e resistência às sanções dos EUA. Raisi tomou posse em agosto do mesmo ano e ocupava a função desde então.
Dificuldades internas
O líder iraniano governava um país com diversos problemas internos e externos. O Irã tem uma economia altamente dependente do petróleo e enfrenta alta inflação e desemprego. Também enfrenta sanções por parte dos EUA, da UE (União Europeia) e do Reino Unido. Os bloqueios afetam a capacidade da nação de exportar petróleo e acessar mercados financeiros globais.
As dificuldades econômicas, assim como a falta de liberdade civis e violações de direitos humanos desencadearam, nos últimos anos, uma série de protestos contra o governo. Um dos mais recentes se deu em 2022, depois da morte da jovem iraniana Mahsa Amini, 22 anos, sob a custódia da Patrulha de Orientação –uma espécie de polícia da moralidade.
Ela foi detida por usar seus trajes de forma “inapropriada” para os padrões do Irã. Vestia calças apertadas, e seu hijab (véu tradicional da cultura islâmica) não cobria completamente seus cabelos. O governo de Raisi reprimiu os protestos com violência.
O Irã tem ainda um relacionamento marcado por tensões com outros países, além dos EUA. Em 13 de abril, por exemplo, as forças iranianas realizaram um ataque com drones e mísseis contra Israel. O governo afirmou que a ofensiva foi feita em legítima defesa contra a “agressão do regime sionista” à embaixada do Irã em Damasco, capital da Síria.