ASSUNÇÃO (Reuters) - O presidente do Paraguai, Mario Abdo, disse nesta terça-feira que se defenderá das acusações feitas por seus detratores sobre a negociação de um acordo energético com o Brasil, em mais um capítulo da crise que abala seu governo há duas semanas.
Abdo esteve próximo de enfrentar o início de um processo de impeachment na última quinta-feira após a divulgação de um documento que estabelecia um cronograma para a contratação de energia elétrica da hidrelétrica binacional Itaipu, considerado prejudicial aos interesses do país por políticos e técnicos locais.
O documento foi tornado sem efeito por Paraguai e Brasil para apaziguar a turbulência, mas a responsabilidade do presidente voltou ao debate público depois que veículos de imprensa locais publicaram uma suposta troca de mensagens entre Abdo e o ex-presidente da empresa estatal de eletricidade, que renunciou em discordância com o documento, provocando o início do escândalo.
“Comecei a falar hoje porque era uma conversa privada que se fez pública... considero oportuno que as pessoas conheçam a postura de seu presidente", disse Abdo à rádio Primero de Marzo.
Nas mensagens, o presidente paraguaio pede a Ferreira que acelere o acordo e o mantenha em sigilo. "Estou tranquilo por ter atuado com transparência, respeitando o canal da delegação que o cargo obriga, não podemos estar no debate técnico se somos nós os condutores políticos", explicou.
A crise custou o cargo do chanceler Luis Castiglioni e de outras quatro autoridades do governo e Abdo disse ainda que o ministro da Fazenda, Benigno López, também colocou seu cargo à disposição nesta terça-feira.
"Ele me disse que não queria ser um fator de conflito", disse o presidente, sem confirmar se aceitaria ou não a renúncia de seu ministro, que também é seu meio-irmão, e um de seus principais assessores.
Enquanto Abdo se defendia, partidos de oposição apresentaram na Câmara dos Deputados um pedido de impeachment contra o presidente, o vice Hugo Velázquez, e López. O procedimento só poderia avançar com o voto dos dissidentes do governista Partido Colorado.
O partido decidiu na segunda-feira cerrar fileiras com Abdo, ainda que os parlamentares dissidentes tenham dito que estava prevista uma reunião de líderes para discutir os novos acontecimentos.
(Reportagem de Mariel Cristaldo e Daniela Desantis)