NOVA YORK (Reuters) - Biólogos da China anunciaram ter realizado o primeiro experimento para alterar o DNA de embriões humanos, desencadeando revolta entre cientistas que alertam contra alterações no genoma humano que podem durar gerações.
O estudo chinês apareceu na semana passada num periódico on-line obscuro chamado Protein & Cell. Em entrevista publicada na quarta-feira no site de notícias da revista Nature, seu principal autor, Junjiu Huang, da universidade UniSun Yat-sen, de Guangzhou, disse que a Nature e a Science rejeitaram o relatório, em parte por razões éticas.
"Tem havido rumores persistentes" sobre a condução deste tipo de pesquisa na China, afirmou Edward Lanphier, executivo-chefe da Sangamo BioSciences Inc, que tem sede na Califórnia e é parte de um grupo que no mês passado pediu uma moratória global a tais experimentos. "Esta monografia tira a questão do hipotético e a leva para o real."
A técnica polêmica é chamada de CRISPR/Cas9 e representa uma versão biológica da função "localizar e substituir" de um processador de texto. Os cientistas introduzem enzimas que, primeiro, se ligam a um gene que sofreu mutação, como um gene associado a uma doença, e depois o substituem ou consertam.
Pelo menos alguns experimentos foram planejados, ou estão em andamento, usando CRISPR ou óvulos humanos ou embriões para corrigir defeitos genéticos, como aqueles que causam fibrose cística ou o gene de câncer de mama BRCA1, relatou recentemente a revista Technology Review, do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT, na sigla em inglês).
Os cientistas alertam que alterar o DNA de esperma, óvulos ou embriões humanos pode produzir efeitos desconhecidos em futuras gerações, já que as mudanças são transmitidas para os descendentes. Eles distinguem esse tipo de assim chamada engenharia de linha germinal daquela que altera o DNA de células não reprodutivas para consertar genes doentes.
"É cedo demais para aplicar estas tecnologias à linha germinal humana, o DNA herdado, em um ambiente clínico", opinou o biólogo Rudolf Jaenisch, do MIT, e presidente da Sociedade Internacional de Pesquisa de Células-Tronco.
Os experimentos de Huang oferecem indícios do que pode dar errado com a CRISPR. Sua equipe a experimentou em 86 embriões humanos de uma célula, todos oriundos de clínicas de fertilização e incapazes de se desenvolverem devido a defeitos cromossômicos. Seu alvo era um gene chamado HBB, que pode causar a talassemia beta, uma doença do sangue.
Cerca de uma dúzia de embriões não sobreviveram à edição do genoma, relataram os cientistas.
Dos embriões sobreviventes, muitos revelaram efeitos "fora do alvo", segundo eles, o que significa que outros genes além do HBB foram alterados. Outros embriões sofreram "mutações adversas". Só alguns deles continham o DNA saudável concebido para reparar os genes HBB defeituosos.
"Se você quiser fazer isso em embriões normais, tem que estar próximo de 100 por cento" do alvo no tocante a consertar somente o gene almejado, declarou Huang ao Nature News, que relatou que quatro grupos ou mais estão realizando experimentos semelhantes na China. "Foi por isso que paramos."
Lanphier teme que o pedido de moratória de edição da linha germinal humana esteja sendo ignorado. "Esta é a primeira do que podem ser muitas monografias" sobre engenharia de linha germinal, disse.
(Reportagem de Sharon Begley)