Por Denis Dyomkin e Jack Stubbs
MOSCOU (Reuters) - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta segunda-feira que vai começar a retirar as suas Forças Armadas da Síria, cinco meses depois de ter ordenado uma intervenção militar que mudou o curso da guerra e favoreceu o presidente sírio, Bashar al-Assad.
"Eu acredito que a tarefa que eu coloquei para o Ministério da Defesa e para as Forças Armadas russas foi cumprida por inteiro”, disse Putin numa reunião no Kremlin com os seus ministros do Exterior e da Defesa, na qual ele anunciou a retirada, começando na terça-feira.
Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, afirmou que Putin havia telefonado para Assad para informá-lo da decisão russa, mas Peskov disse que os dois líderes não discutiram o futuro de Assad, o maior obstáculo para um acordo de paz.
A decisão foi anunciada no dia em que as negociações mediadas pelas Nações Unidas entre os lados em guerra na Síria foram retomadas em Genebra.
Putin ordenou uma intensificação dos esforços diplomáticos russos para terminar com a guerra civil na Síria, que já dura cinco anos, matou milhares de pessoas e expulsou milhões de suas casas, muitos dos quais procuraram refúgio na Europa.
Contudo, o líder russo sinalizou que Moscou manteria uma presença militar: ele não deu um prazo para o final da retirada e disse que forças russas ficariam no porto de Tartous e na base aérea de Hmeymim na província síria de Latakia, de onde a Rússia lançou a maior parte dos seus ataques aéreos.
Ainda pairam dúvidas sobre as consequências na prática do anúncio de Putin. Não estava claro se os ataques aéreos russos iriam parar. A Rússia vai manter a capacidade de executá-los a partir da base em Latakia.
Com a intervenção na Síria, Putin restaurou o status russo como um importante ator internacional, capaz de exercer influência para além das suas fronteiras, e forçou os Estados Unidos a reconhecerem os interesses de Moscou.
A ação russa interrompeu um avanço rebelde em Latakia, reduto de Assad, quando o colapso das forças sírias parecia iminente. Elas ganharam tempo para se reagrupar e retomar território da oposição.
No entanto, concluiu-se em Moscou que seguir adiante com a operação militar levaria a benefícios cada vez menores. Autoridades russas têm dito que não é realista tentar restabelecer o controle de Assad em toda a Síria e que era tempo de negociar a paz.
A campanha na Síria foi a maior missão de combate russa fora da antiga União Soviética desde a ocupação do Afeganistão. Ela resultou em pressões sobre a já frágil economia russa e azedou as relações com a Turquia, um importante parceiro comercial, depois que Ancara derrubou um caça russo que fazia parte da missão na Síria.
"O trabalho efetivo dos nossos militares criaram as condições para o início do processo de paz”, declarou Putin na reunião no Kremlin.
"Com a participação dos militares russos as Forças Armadas da Síria e as forças patrióticas sírias foram capazes de conseguir uma virada fundamental na luta contra o terrorismo internacional e tomaram a iniciativa em respeito a quase tudo”, afirmou Putin.
"Eu assim estou ordenando o ministro da Defesa para, a partir de amanhã, começar a retirada da principal parte do nosso contingente militar da Síria.”
Ao sinalizar o início da retirada, a Rússia vai provavelmente acalmar as relações com os EUA, que tem acusado o Kremlin de inflamar o conflito sírio e buscar os seus próprios interesses.