Por Stephanie van den Berg e Maya Gebeily
HAIA/BEIRUTE (Reuters) - Nos primeiros anos do conflito brutal na Síria, altos funcionários do governo estabeleceram e dirigiram grupos paramilitares conhecidos como shabbiha para ajudar o Estado a reprimir oponentes, documentaram investigadores de crimes de guerra.
Em um relatório compartilhado com a Reuters, a Comissão Internacional de Justiça e Responsabilidade (Cija, na sigla em inglês) publicou sete documentos que seus investigadores disseram mostrar que os mais altos níveis do governo da Síria "planejaram, organizaram, instigaram e implantaram" as shabbiha desde o início da guerra, em 2011.
Investigadores da ONU em 2012 concluíram que havia motivos razoáveis para acreditar que as milícias shabbiha cometeram crimes contra a humanidade, incluindo assassinato e tortura, e crimes de guerra, como prisões e detenções arbitrárias, violência sexual e pilhagem.
Os documentos do Cija não contém ordens escritas diretas para que atrocidades fossem cometidas.
O governo sírio não respondeu a um pedido de comentário da Reuters. Anteriormente, o governo culpou os combatentes da oposição por vários assassinatos em massa estudados pela Cija no relatório. O governo não comentou publicamente sobre as shabbihas, que significa fantasmas em árabe, ou se teve algum papel na organização dos grupos.
Datados de janeiro de 2011 -- os primeiros dias dos protestos contra o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad --, os documentos detalham a criação dos chamados Comitês Populares, grupos que incorporaram partidários do regime já conhecidos como shabbiha ao aparato de segurança, e os treinou, instruiu e armou, disse o relatório.
Os documentos incluem instruções em 2 de março de 2011 da inteligência militar às autoridades locais por meio de Comitês de Segurança dirigidos pelos líderes do partido Baath, de Assad, para "mobilizar" informantes, organizações de base e os chamados amigos do governo de Assad. Em documentos posteriores, em abril, eles são ordenados a transformá-los em Comitês Populares.
Eles também contêm instruções em abril, maio e agosto de 2011 para Comitês Populares do recém-criado Comitê Central de Gerenciamento de Crise (CCMC), uma mistura de forças de segurança, agências de inteligência e altos funcionários que se reportavam diretamente a Assad, disse o relatório.
Uma das primeiras diretrizes do CCMC, datada de 18 de abril de 2011, e incluída na íntegra no relatório, determinava que os Comitês Populares fossem treinados no uso de armas contra manifestantes, bem como na forma de prendê-los e entregá-los às forças do governo.
(Reportagem de Stephanie Van Den Berg e Maya Gebeily)