LONDRES (Reuters) - Um inquérito britânico sobre a Guerra do Iraque descobriu que um expurgo agressivo de integrantes do partido Baath de Saddam Hussein, uma ação comandada pelo político já morto e apoiado pelos Estados Unidos, Ahmed Chalabi, “teve um impacto significativo e duradouro no Iraque” que estabeleceu as bases para o conflito sectário que ocorre no país hoje.
A investigação britânica, liderada por John Chilcot, descobriu que autoridades norte-americanas e britânicas buscaram, mas em grande parte fracassaram, limitar os expurgos pós-guerra liderados por Chalabi e outros políticos iraquianos xiitas que desestabilizaram o equilíbrio étnico e religioso do país.
Chilcot, que avaliou os registros do governo britânico e entrevistou autoridades do país envolvidas com a política para o Iraque, relatou que, enquanto representantes dos EUA e o do Reino Unido previam antes da guerra que algum tipo de expurgo de baathistas favoráveis a Saddam ocorreria, “nenhum plano claro” para isso foi acordado antes da invasão ao Iraque em 2003.
Desavenças entre autoridades norte-americanas, britânicas e iraquianas sobre a escala do expurgo começaram quase que imediatamente depois da derrubada de Saddam, descobriu Chilcot.
Os EUA e o Reino Unido acordaram que ele deveria abranger os três níveis principais do partido, até 5.000 indivíduos. Contudo, alguns políticos iraquianos argumentaram que o expurgo deveria cobrir um quarto nível, expondo um número adicional de 30 mil funcionários do governo, incluindo professores, ao desemprego.
Segundo Chilcot, um documento interno do governo britânico chegou a comentar que tal expurgo seria “excessivo e prejudicial à provisão de serviços públicos”.
Mesmo assim, a autoridade de coalizão pós-guerra expurgou os quatro níveis principais. Um decreto demitiu integrantes do partido Baath de empregos públicos e os proibiu de exercê-los no futuro, relatou Chilcot.
Chalabi, educado nos EUA, com uma história de problemas financeiros, morto em novembro passado, encabeçou então uma Comissão de Desbaathificação criada para executar o expurgo.
Em 2007, representantes britânicos alertaram que o processo era um “importante inibidor” da reconciliação entre sunitas e xiitas, relatou Chilcot.
O documento conclui que o “Reino Unido optou por não agir em relação a suas bem fundamentadas desconfianças” sobre a extensão da chamada desbaathificação.
(Reportagem de Mark Hosenball)