Por Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - Dois estudos em conjunto entre os Estados Unidos e o Brasil sobre o vírus Zika, que se alastra pelas Américas, e sua relação com a má-formação craniana em recém-nascidos e outras desordens neurológicas vão produzir os primeiros resultados em maio, disse uma importante autoridade de saúde pública dos EUA nesta sexta-feira.
Os estudos buscam confirmar a teoria de que o vírus transmitido por mosquito é responsável por um aumento sem precedentes de casos de má-formação craniana em bebês no Brasil, uma condição chamada microcefalia, e que ele também causa a síndrome de Guillain-Barré, uma paralisia temporária em adultos.
Desde que apareceu no Brasil no ano passado, o vírus, detectado pela primeira vez em macacos em 1947 na África, se espalhou para mais de 26 países nas Américas e diversos países em outras regiões. O Zika era antes visto como doença relativamente leve, mas a preocupação com a possível relação do vírus com a microcefalia levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar o surto em 1° de fevereiro uma emergência internacional de saúde pública.
Os resultados preliminares dos dois estudos, conduzidos na Bahia e na Paraíba pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças do EUA e por centros de pesquisa biomédicas do Brasil, devem estar prontos “nesta primavera” (outono no Hemisfério Sul), disse Anne Schuchat, diretora do centro norte-americano.
"Cientistas estão cada vez mais confiantes de que o Zika está causando a microcefalia, mas as pessoas podem ter diferentes parâmetros sobre quantas evidências são necessárias”, afirmou Schuchat à imprensa, durante uma reunião de dois dias na capital brasileira sobre como lidar com o vírus, que é transmitido pelo mesmo mosquito da dengue e da febre amarela.
"Os estudos epidemiológicos em andamento aqui no Brasil e alguns sendo iniciados na Colômbia devem ajudar a cimentar a relação”, afirmou ela.
A OMS declarou nesta sexta que poderia levar de quatro a seis meses para provar a relação.
O Brasil diz que já confirmou mais de 500 casos de microcefalia e considera que a maioria deles está ligada a infecções do Zika nas mães. O país está investigando mais de 3.900 casos suspeitos adicionais de microcefalia. No entanto, a relação causal com o Zika não foi ainda provada.
Schuchat afirmou que o governo norte-americano está “muito preocupado” com um aumento da incidência do vírus no território de Porto Rico quando o clima esquentar no meio ano, e “extremamente preocupado” com o impacto que o Zika pode ter no Haiti, onde a dengue é endêmica.
O Brasil está lutando para conter o surto de Zika que ameaça o comparecimento nos Jogos Olímpicos do Rio em agosto. Os EUA e outros países estão recomendando que gestantes não viajem.
O encontro entre os especialistas norte-americanos e brasileiros ajudou para a troca de informações científicas, para remover obstáculos e para garantir “que nossas cabeças mais capazes se juntem” para progredir nas pesquisas, disse o chefe da delegação dos EUA e secretário-assistente de Saúde, Jimmy Kolker.