Por Andrew Gray
BRUXELAS (Reuters) - Os membros da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não devem ser dissuadidos de fornecer mais ajuda militar à Ucrânia pela "retórica nuclear imprudente" do presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse o secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenberg, em entrevista à Reuters nesta segunda-feira.
Stoltenberg comentava uma declaração de Putin na semana passada de que a Rússia pode usar armas nucleares caso seja atingida por mísseis convencionais, e que Moscou considerará qualquer ataque apoiado por uma potência nuclear como um ataque conjunto.
O alerta de Putin foi feito no momento em que os Estados Unidos e seus aliados deliberam sobre a possibilidade de permitir que a Ucrânia dispare mísseis convencionais ocidentais em direção à Rússia. Kiev diz que quer permissão para atingir alvos que fazem parte do esforço de guerra russo.
"O que temos visto é um padrão de retórica e mensagens russas nucleares imprudentes, e isso se encaixa nesse padrão", disse Stoltenberg, que passa a liderança da Otan para o ex-premiê holandês Mark Rutte na terça-feira, após uma década no cargo.
"Toda vez que aumentamos nosso apoio com novos tipos de armas -- tanques de batalha, fogos de longo alcance ou F-16s -- os russos tentaram nos impedir", disse Stoltenberg à Reuters na sede da Otan, nos arredores de Bruxelas.
"Eles não tiveram sucesso e esse último exemplo não deve impedir que os aliados da Otan apoiem a Ucrânia."
Ele disse que a Otan não detectou nenhuma mudança na postura nuclear da Rússia "que exija qualquer mudança de nossa parte".
Stoltenberg afirmou que o maior risco para a Otan seria se Putin vencesse na Ucrânia.
"Então, a mensagem será que, quando ele usar a força militar, mas também quando ameaçar os aliados da Otan, ele conseguirá o que quer e isso nos tornará mais vulneráveis", disse ele.
Até o momento, o governo dos EUA tem relutado em dar permissão à Ucrânia para atacar a Rússia com mísseis de longo alcance, devido ao receio de tensões maiores com Moscou e possíveis retaliações.
Algumas autoridades ocidentais também têm questionado a eficácia de tais ataques para mudar o equilíbrio da guerra.