Por MacDonald Dzirutwe
HARARE (Reuters) - Robert Mugabe, líder da guerrilha que levou o Zimbábue à independência em 1980 e que esmagou inimigos durante quase quatro décadas no poder enquanto o país sucumbia à pobreza, à hiperinflação e aos tumultos, morreu nesta sexta-feira, aos 95 anos de idade.
Ele foi uma das figuras mais polarizadoras da história de seu continente, um gigante da luta de libertação da África do colonialismo, cujo comando acabou em desgraça quando ele foi deposto por seu próprio Exército.
"É com grande tristeza que anuncio o falecimento do camarada Robert Mugabe, fundador e ex-presidente do Zimbábue", informou uma publicação na conta oficial de Twitter do atual presidente do país, Emmerson Mnangagwa.
Muitos líderes africanos prestaram suas homenagens. O governo sul-africano enviou condolências pela morte de um "libertador pan-africanista destemido".
O presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, lamentou a perda de um "homem de coragem que nunca temeu lutar pelo que acreditava, mesmo quando não era popular".
Em casa, até seus adversários prestaram homenagens.
"Ele foi um colosso na arena zimbabuana, e seu legado positivo duradouro será seu papel para acabar com o comando da minoria branca e a expansão de uma educação de qualidade para todos os zimbabuanos", tuitou David Coltart, senador de oposição e advogado de direitos humanos.
Mugabe morreu em Cingapura, onde recebeu tratamento médico com frequência nos últimos anos. Em novembro, Mnangagwa disse que Mugabe não conseguia mais andar ao ser internado em um hospital de Cingapura, sem explicar do que sofria.
Mugabe foi louvado como um instigador da reconciliação racial quando assumiu o governo de uma nação dividida por quase um século de controle colonial branco.
Quase quatro décadas mais tarde, muitas pessoas no Zimbábue e no exterior o denunciavam como um autocrata obcecado pelo poder disposto a acionar esquadrões da morte, fraudar eleições e destruir a economia em sua busca incansável por controle.
Quando foi deposto por suas próprias Forças Armadas, em novembro de 2017, sua renúncia desencadeou comemorações entusiasmadas no país de 13 milhões de habitantes. Para Mugabe, foi um ato de traição "inconstitucional e humilhante" de seu partido e seu povo.
Confinado nos últimos anos de sua vida entre Cingapura e sua vasta mansão "Teto Azul" de Harare, Mugabe morreu amargurado. No ano passado, na primeira eleição em que não concorreu, disse que votaria na oposição.
(Reportagem adicional de Nqobile Dludla, Olivia Kumwenda-Mtambo em Joanesburgo; Joe Brock em Hong Kong; Fathin Ungku e Aradhana Aravindan em Cingapura)